Uma variante descoberta pela primeira vez no estado norte-americano da Califórnia em dezembro, é mais contagiosa do que as formas anteriores do novo coronavírus, mostra um novo estudo, alimentando a preocupação de que novas mutações como esta possam impedir o declínio acentuado de casos em todo o estado e talvez em outros lugares.
"Eu gostaria de ter melhores notícias para dar a vocês, que essa variante não é significativa […]. Mas, infelizmente, nós apenas seguimos a ciência", afirmou Charles Chiu, virologista da Universidade da Califórnia, EUA, ao jornal The New York Times.
A variante, conhecida como B.1.427/B.1.429, surgiu pela primeira vez na Califórnia em abril, mas não apareceu no radar dos cientistas até dezembro, quando casos da variante dispararam rapidamente no estado. A mutação já apareceu até o momento em 45 dos 50 estados norte-americanos e em vários outros países, incluindo Austrália, Dinamarca, México e Taiwan. Mas até agora só decolou na Califórnia.
No entanto, os cientistas não tinham certeza se a variante era de fato mais contagiosa do que as cepas anteriores ou se se tornou mais comum simplesmente por acaso, por exemplo, por meio de alguns eventos de superdisseminação.
Novo estudo
Na nova pesquisa, que ainda não foi publicado em uma revista científica, os pesquisadores analisaram 2.172 amostras de vírus coletados na Califórnia entre setembro de 2020 e janeiro de 2021. Eles descobriram que, embora a variante ainda não tivesse aparecido em setembro, em janeiro se tornou a variante predominante na Califórnia, com casos dobrando a cada 18 dias, relata o The o New York Times.
Os pesquisadores realizaram experimentos em laboratório para procurar evidências de que a nova variante tinha uma vantagem biológica. Eles descobriram que a mutação tinha pelo menos 40% mais eficiência na infecção de células humanas do que as variantes anteriores. E quando mediram o material genético encontrado em equipamentos usados para testes de COVID-19, os pesquisadores descobriram que as pessoas infectadas com a variante produzem uma carga viral duas vezes maior do que a de outras variantes.
Isso pode significar que as pessoas infectadas com a variante Califórnia podem espalhar o novo coronavírus mais facilmente do que as pessoas infectadas com outras cepas. Os pesquisadores disseram que suas descobertas significam que B.1.427/B.1.429 deve ser considerado uma "variante de preocupação" semelhante às variantes que surgiram no Reino Unido, África do Sul e Brasil.
O estudo também descobriu que a nova variante pode escapar do sistema imunológico melhor do que outras. Os anticorpos de pessoas que se recuperaram de infecções de outras variantes foram menos eficazes no bloqueio da nova variante em laboratório. O mesmo aconteceu quando os pesquisadores usaram soro sanguíneo de pessoas que haviam sido vacinadas.
Ainda assim, a variante da Califórnia pode não ser tão bem-sucedida quanto a mutação da África do Sul em escapar das vacinas atuais. Em estudos anteriores, a variante sul-africana produziu níveis seis vezes mais baixos de anticorpos do que os níveis produzidos em resposta a outras cepas. Os níveis de anticorpos produzidos em resposta à variante da Califórnia foram apenas duas vezes mais baixos.
Dessa forma, Chiu ressalta que "se conseguirmos vacinar pessoas suficientes, seremos capazes de lidar com essas variantes simplesmente porque não teremos transmissão contínua".
Em breve, haverá mais dados para avaliar o tamanho do problema que a nova variante apresenta. B.1.1.7, a variante britânica, chegou à Califórnia apenas por volta do início de dezembro e, embora esteja dobrando a cada 12 dias ou mais, ainda é cerca de apenas 2% dos casos de COVID-19 no estado norte-americano.
Agora, a Califórnia se tornará uma espécie de gaiola viral compatível entre as duas variantes, escreve o The o New York Times. Chiu pensa ser possível que B.1.427/B.1.429 suprima a variante estrangeira e continue a dominar o estado. "Vamos descobrir nas próximas semanas", afirmou.
A Califórnia já registrou 49.869 óbitos em decorrência da COVID-19 e contabiliza 3.542.706 casos da doença. OS EUA têm 28.279.131 casos e 502.432 mortes pelo novo coronavírus.