Desde o início da semana, Araraquara, no interior de São Paulo, está em lockdown devido ao agravamento da situação sanitária acarretado pela proliferação da variante de Manaus do novo coronavírus, a P1. Com 100% de ocupação em seus leitos de UTI e enfermaria, a cidade contabiliza 13.978 casos de COVID-19 desde o início da pandemia, com 192 mortes confirmadas.
O lockdown em Araraquara, iniciado no último domingo (21), deve se estender, pelo menos, até o próximo sábado (27). As autoridades locais estão fazendo constantes apelos à população para respeitar o distanciamento, mas, até o momento, esse índice de isolamento social ainda não está perto do ideal.
A cidade está passando por uma sanitização, a cargo do Exército e da Defesa Civil, para reduzir as chances de novas infecções. As suspeitas são de que essa cepa do novo coronavírus tenha maior poder de transmissão do que a original, e já foi identificada em, pelo menos, 17 estados da federação.
Segundo o presidente do Conselho Municipal de Saúde de Araraquara, Haroldo Campos, quando a nova cepa do vírus chegou ao município, a cidade estava em uma situação de relaxamento do isolamento, pela própria sociedade. Embora a presença da variante tenha sido identificada rapidamente, a transmissão ocorreu a uma velocidade maior, aumentando o número de casos e de internações em um curto prazo.
"Não é só Araraquara, é a região que já está começando a entrar em colapso. Todo o DRS-3 [Departamento Regional de Saúde da 3ª Região], que compreende 24 municípios", afirma o especialista em entrevista à Sputnik Brasil.
Campos destaca que, no que é possível, as autoridades municipais estão fazendo a sua parte para tentar reduzir o número de infecções e de óbitos provocados pela COVID-19, ao mesmo tempo em que unem esforços na reivindicação por vacinas. De outro lado, ele espera que a população também faça a sua parte.
"O ser humano não está acostumado com o cerceamento da liberdade. Então, realmente, é difícil você agradar a todos e todo mundo se conscientizar a ficar em casa. Há raras exceções. Neste momento, nós temos a população respondendo positivamente, mas muito mais pelo medo."
O profissional reconhece que o lockdown é, sem dúvidas, problemático por uma série de questões, dificultando a vida de muita gente. Mas, nas atuais circunstâncias, é a medida mais adequada. E, se não houver uma adesão adequada, capaz de aliviar um pouco o sistema de saúde, é possível que seja necessário estender esse lockdown por mais tempo.
Combate às fake news
Ainda de acordo com o presidente do Conselho Municipal de Saúde de Araraquara, o combate ao surto da COVID-19 na cidade também tem encontrado obstáculos na difusão de informações falsas sobre a pandemia, as chamadas fake news. Em sua entrevista à Sputnik Brasil, Haroldo Campos fez um apelo às pessoas para que abandonem essa prática, que, segundo ele, "está sendo mais prejudicial do que o próprio vírus".
"Nós não temos uma questão política. Esse vírus não tem partido. Esse vírus não tem cor, não tem gênero. Esse vírus está aí, para arrebentar todo mundo, todo o sistema", assinala. "E não adianta ficar inventando fake news, curas milagrosas, porque o que vai curar é vacina e estudos da ciência e dos pesquisadores."