Os questionamentos foram levantados pelo líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, durante uma sessão televisionada em que o premiê responde perguntas dos legisladores britânicos.
"A ONU [Organização das Nações Unidas] disse que o Iêmen enfrenta a pior fome que o mundo já viu em décadas. E o secretário-geral [da ONU, António Guterres] disse na segunda-feira [1º] que cortar a ajuda seria, em suas palavras, uma sentença de morte para o povo do Iêmen. Como o primeiro-ministro justifica a venda de armas para a Arábia Saudita e o corte da ajuda às pessoas que morrem de fome no Iêmen?", indagou Starmer.
Na segunda-feira (1º), o governo do Reino Unido anunciou que, devido às dificuldades econômicas derivadas da pandemia da COVID-19, o país fornecerá apenas 87 milhões de libras (cerca de R$ 681 milhões) em ajuda humanitária ao Iêmen, um corte de 54% do valor esperado inicialmente. O Iêmen vive um conflito interno há sete anos com forte influência saudita, que realiza ataques contra grupos rebeldes iemenitas.
A decisão do Reino Unido de cortar a ajuda humanitária, que o líder da oposição, Keir Starmer, descreveu como "inescrupulosa", gerou críticas, além dos oposicionistas, também de vários legisladores conservadores, assim como de organizações de direitos humanos.
Johnson afirmou, no entanto, que o Reino Unido deu aos iemenitas um bilhão de libras (cerca de R$ 7,8 bilhões) desde o início do conflito, sete anos atrás, e tentou virar as críticas contra seu rival político, acusando-o de fazer da situação humanitária no Iêmen o foco da sessão parlamentar ao invés de tratar da pandemia no país europeu.
Starmer ignorou os comentários e voltou a questionar o premiê por continuar a vender armas para a Arábia Saudita, que poderiam ser usadas no conflito no Iêmen, mesmo após os Estados Unidos decidirem suspender as vendas de armas para o governo saudita.
"Vendemos 1,4 bilhão de libras [cerca de R$ 11 bilhões] em armas para a Arábia Saudita em três meses no ano passado, incluindo bombas e mísseis que poderiam ser usados no Iêmen [...]. Tenho que perguntar, o que seria necessário para o primeiro-ministro suspender as vendas de armas para a Arábia Saudita?", perguntou.
O primeiro-ministro argumentou que o Reino Unido tem seguido "escrupulosamente" a orientação internacional consolidada sobre a venda de armas.