Por meio de uma reportagem investigativa, o portal Repórter Brasil revelou informações sobre o uso do Banco Nacional Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) para financiar a Apsen Farmacêutica, empresa de Renato Spallicci, apoiador do presidente Jair Bolsonaro.
Segundo a publicação, a empresa recebeu um valor sete vezes maior do que seu crédito liberado nos últimos 16 anos.
O primeiro acordo, assinado em fevereiro de 2020, prevê financiamento de até R$ 94,8 milhões para o "plano de investimentos em inovação" da companhia. Desse montante, o banco desembolsou R$ 20 milhões em março do ano passado.
Já o segundo financiamento, de R$ 58,9 milhões, foi assinado em junho para "ampliar a capacidade produtiva e de embalagem no complexo industrial da Apsen, em São Paulo".
Os recursos aprovados nesse acordo ainda não foram liberados pelo BNDES. As informações constam no site da instituição, que usa recursos públicos para oferecer empréstimos com juros abaixo dos praticados pelo mercado.
Vale lembrar que Jair Bolsonaro foi um dos maiores defensores do medicamento para tratar a COVID-19, mesmo sem haver eficácia comprovada.
Neste cenário, a publicação enfatiza que as vendas de hidroxicloroquina – usada no tratamento contra malária e doenças reumáticas –, ajudaram a Apsen a alcançar faturamento recorde no ano passado, próximo de R$ 1 bilhão, uma alta de 18% em relação ao ano anterior.
A Apsen é a líder do mercado nacional de hidroxicloroquina e a maior beneficiada pela comercialização recorde do produto em 2020. Sua medicação está no mercado há 19 anos e respondeu por 78% das vendas no ano passado.
A empresa sustenta que não usou o financiamento público na fabricação do remédio, mas confirma que pediu os empréstimos para investir em projetos de "expansão da empresa e linhas de produtos".
Exército pagou 167% mais caro por insumo da cloroquina; PGR investiga superfaturamentohttps://t.co/R2OQ3wjubJ pic.twitter.com/OrEgNgkC1z
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) September 15, 2020
A empresa também afirmou que Spallicci não tem relação pessoal com o presidente e que eles nunca se encontraram. Questionada sobre a aprovação recorde de empréstimos em 2020, a farmacêutica disse que demandou financiamentos para investir em pesquisa de novos produtos e na área industrial, "com o objetivo de preparar as áreas produtivas para suportar o plano de lançamentos dos próximos anos".
Outra fabricante de hidroxicloroquina que recebeu empréstimos do BNDES em 2020 foi a EMS. A companhia recebeu R$ 23 milhões do banco público em maio para investir em duas frentes: na implantação de uma fábrica de medicamentos oncológicos (R$ 7 milhões) e na ampliação de sua linha industrial (R$ 16 milhões). O apoio total pode chegar a R$ 123 milhões.