O aumento recente dos preços do petróleo pode mexer na configuração dos valores dos combustíveis no Brasil. A commodity é usada para produzir a gasolina, mas não deixa de afetar as demais indústrias, como a do etanol.
É o que avalia o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Marcos Fava Neves, que acredita em uma alta também no preço do etanol. O combustível é produzido a partir de vegetais e cereais, tais como milho, beterraba e cana-de-açúcar - sendo este o mais utilizado no país.
O especialista ressalta que, para o Brasil, houve um aumento duplo devido à alta do dólar.
O valor médio do barril do petróleo Brent, que chegou a cair para a faixa dos US$ 20 (R$ 113,39, em valores atualizados) em abril de 2020, voltou a romper a barreira dos US$ 60 (R$ 340,18) em fevereiro deste ano. Agora, a commodity está no patamar dos US$ 66 (R$ 374,20).
Já o dólar, que custava pouco mais de R$ 4 no início de 2020, atualmente vale R$ 5,63.
"É um valor que pouca gente acreditava que poderia atingir ainda em época de pandemia. E há também o impacto do câmbio, com a desvalorização da moeda", explicou Neves, que também é professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).
Para o especialista, o preço do etanol deverá ser corrigido para cima, puxado pelo valor da gasolina. A entressafra da cana-de-açúcar, com a menor produção nos próximos meses, também contribuirá para esse movimento.
"Com mais margem, as usinas deslocam mais cana para fazer etanol. Consequentemente, o preço do açúcar também sobe. A relação é essa. Ele [o preço do etanol] é fortemente ligado ao preço do petróleo", disse o professor.
A troca de comando na Petrobras também não pode ser desprezada pelo mercado de etanol.
No dia 19 de fevereiro, o presidente Jair Bolsonaro anunciou o general da reserva Joaquim Silva e Luna para substituir o atual presidente da estatal, Roberto Castello Branco, economista liberal e nome de confiança do ministro da Economia, Paulo Guedes.
A mudança, que deve ser consumada no final deste mês, repercutiu mal nos mercados e fez o valor das ações da petroleira na bolsa de valores despencar de cerca de R$ 29 para R$ 21 em dois dias.
"Não sabemos ainda qual é a nova política do combustível. Então, não dá pra saber efetivamente se todo o barulho que já aconteceu vai se verificar com as decisões da empresa. Tomara que não. Acho que, em momentos de elevação de preços internacionais dos combustíveis, podem ser feitas reduções tributárias sem afetar a política de precificação da empresa, porque interfere na bolsa, e isso não é bom", afirmou Neves.
Diferentemente da gasolina, que produz gases poluentes, o etanol é um combustível renovável.
Em um momento de crescente demanda por energias sustentáveis, o professor acredita que ainda faltam incentivos para o consumidor ter a percepção dos benefícios do etanol, tanto na questão ambiental como econômica e social.
"Acredito que ainda existe um grande espaço de trabalho para aumentar a fidelização do etanol. Eu gosto muito da ideia de usar o próprio posto para isso, usar as bombas de combustível, contando a emissão por combustível, por litro. Enfim, há uma série de ideias para que o consumidor tenha uma maior fidelização ao etanol", afirmou.