Na última quinta-feira (4), o Observatório do Clima lançou a versão municipal do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa, o SEEG Municípios, que revelou que sete dos dez municípios que mais emitem gás carbônico no Brasil estão na Amazônia, tendo o desmatamento como principal fonte de emissões.
Juntas, as dez cidades campeãs de emissão respondem por 172 milhões de toneladas brutas de gás carbônico equivalente (CO²e). A lista é liderada por São Félix do Xingu, no Pará, com 29.768.597 toneladas, seguida por Altamira-PA (23.381.897) e Porto Velho-RO (22.492.817). A maior metrópole do país, São Paulo, aparece apenas na quarta posição, com 17.964.207 toneladas de carbono.
Apenas os dez primeiros do ranking nacional emitem juntos mais toneladas brutas de gás carbônico equivalente do que países inteiros, como Peru, Bélgica ou Filipinas https://t.co/v2BR766luM
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) March 4, 2021
Esse impacto maior do desmatamento sobre a emissão de gases de efeito estufa é "triste", mas não é "surpresa", conforme explica o climatologista Carlos Nobre, membro do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), ex-pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e criador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
"Pode parecer estranho, mas não é surpresa. Porque em um hectare de floresta desmatada e queimada, depois de desmatada, queimada, emite mais de 300 a 350 toneladas de gás carbônico. Então, é ali que estão os municípios com altíssimos índices de desmatamento. Então, não é, de fato, surpresa", afirma em entrevista à Sputnik Brasil.
Normalmente, cerca de 70% das emissões de gases de efeito estufa, segundo o especialista, têm ligação com a queima de combustíveis fósseis, enquanto 24% são por conta de mudanças no uso da terra e agricultura. No Brasil, ele destaca, ocorre o contrário, com o desmatamento e a agropecuária respondendo pela maior parte das emissões.
"Vejam bem, 2020, ano em que a pandemia fez as emissões globais de gás carbônico caírem, de queima de combustíveis fósseis caírem 7%, o Brasil foi um dos pouquíssimos países do mundo em que houve um aumento das emissões. Em 2020, as emissões no Brasil foram maiores do que em 2019, mesmo com a diminuição da queima de combustíveis fósseis dos transportes, dos lockdowns, diminuição do transporte aéreo e do transporte terrestre que nós tivemos."
De acordo com o cientista, além de contribuir com emissões significativas de gases, o desmatamento também preocupa porque, com ele, perde-se também a capacidade que as florestas têm de retirar gás carbônico da atmosfera, aumentando o aquecimento global.
"As florestas globais retiram 30% do gás carbônico que nós emitimos. Emitimos perto de 40 bilhões de toneladas e as florestas retiram quase 12 bilhões de toneladas. A floresta amazônica já retirou mais de dois bilhões de toneladas de gás carbônico por ano."
Para Nobre, os números do SEEG Municípios mostram a necessidade de se mudar o "modelo de desenvolvimento do Brasil", encerrando a expansão das fronteiras das commodities agrícolas, principalmente na Amazônia.
"O Brasil tem, sim, o potencial de continuar sendo um país produtor de alimentos — para nós, brasileiros, e para exportação —, mas utilizando uma área muito menor", afirma.