Um novo estudo sugere que os polvos provavelmente sentem e respondem à dor de maneira semelhante aos mamíferos. Esta é a primeira evidência forte dessa capacidade em qualquer invertebrado. Os resultados foram publicados na revista científica iScience.
Os polvos são os invertebrados neurologicamente mais complexos da Terra, mas poucos experimentos enfocaram em seu potencial de sentir dor. Mas neurobióloga Robyn Crook vem investigando essa questão há anos, e no seu trabalho mais recente usa os mesmos protocolos utilizados para testar a dor em roedores de laboratório em cefalópodes, especificamente o polvo.
"Nosso objetivo com este estudo foi mover a questão da dor dos invertebrados além de qualquer dúvida razoável, de modo que os esforços para melhor regular seu uso humanitário possam prosseguir com uma base de evidências forte que até agora não existia", afirma Crook em comunicado.
Usando medições detalhadas de comportamentos associados à dor espontânea e da atividade neural, a cientista identificou três linhas de evidência de que os polvos são capazes de sentir estados emocionais negativos quando confrontados com a dor. Essas são as mesmas características que os mamíferos apresentam, apesar de o sistema nervoso do polvo ser organizado de maneira fundamentalmente diferente dos vertebrados.
Embora seja difícil interpretar um sentimento subjetivo ou o estado emocional em um animal, Crook argumenta que o comportamento mostrado pelos polvos durante a experiência sugere que eles provavelmente estão experimentando os componentes físicos e emocionais da dor de uma forma não muito diferente dos roedores, inclusive duradouros em mudanças em seu estado afetivo.
"Mesmo na ausência de provas sobre a percepção consciente […], permanece claro que as respostas demonstradas pelos polvos neste estudo são tão semelhantes àquelas que seriam expressas por mamíferos sentindo dor, que um argumento razoável e cauteloso pode ser feito de que esse estado interno dessas espécies díspares também é provavelmente semelhante", conclui a cientista.