Um novo estudo com as variantes do Reino Unido e da África do Sul do SARS-CoV-2 prevê que as vacinas atuais, e certos anticorpos monoclonais, podem ser menos eficazes na neutralização dessas mutações e que as novas variantes aumentam a ameaça de as reinfecções se tornarem mais comuns. Os resultados foram publicados na revista científica Nature na segunda-feira (8).
"Nosso estudo e os novos dados de testes clínicos mostram que o vírus está viajando em uma direção que está fazendo com que ele escape de nossas vacinas e terapias atuais […]. Se a disseminação desenfreada do vírus continuar e mais mutações críticas se acumularem, então podemos ser condenados a perseguir o SARS-CoV-2 em evolução continuamente, como temos feito há muito tempo com o vírus da gripe", afirmou em comunicado David Ho, coautor do artigo.
Os cientistas descobriram que os anticorpos coletados em amostras de sangue de pessoas inoculadas com a vacina Moderna ou Pfizer/BioNTech foram menos eficazes na neutralização das duas variantes, B.1.1.7, que surgiu em setembro passado no Reino Unido, e B.1.351, que emergiu de África do Sul no final de 2020. Contra a variante B.1.1.7, a neutralização caiu cerca de duas vezes, mas contra a variante da África do Sul, a neutralização caiu de 6,5 a 8,5 vezes.
As descobertas do estudo estão sendo confirmadas em meio aos resultados mais recentes sobre a vacina norte-americana Novavax, que relatou uma taxa de eficácia de 90% contra a variante do Reino Unido, mas apenas 49,4% no combate à variante sul-africana.
Variante de Manaus
O novo estudo não examinou a variante mais recente encontrada no Brasil, a B.1.1.28, mas dadas as mutações de pico semelhantes entre as variantes de Manaus e da África do Sul, Ho diz que a variante do Brasil deve se comportar de forma semelhante à variante da África do Sul.
"Temos que impedir a replicação do vírus e isso significa lançar a vacina mais rapidamente e seguir nossas medidas de mitigação, como uso de máscaras e distanciamento físico. Parar a disseminação do vírus vai interromper o desenvolvimento de novas mutações", garantiu o cientista.
O estudo também descobriu que certos anticorpos monoclonais usados agora para tratar pacientes com COVID-19 podem não funcionar contra a variante sul-africana. E com base nos resultados com plasma de pacientes que foram infectados no início da pandemia, a variante da África do Sul tem o potencial de causar reinfecção.
"A reinfecção pode ser mais provável se alguém for confrontado com essas variantes, particularmente a da África do Sul", finalizou Ho.