Esta é a opinião de José Luiz Tejon, doutor em educação, especialista em agronegócio e coordenador de MBA dos cursos de Agrobusiness da FECAP (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado). Este é um movimento que acontece em escala global. No futuro, as economias nacionais dificilmente deixarão de fazer negócio com países com os quais não compartilham a mesma ideologia, segundo Tejon.
"As relações multilaterais vão formando um conjunto dinâmico de um mundo novo e vão superando, passando por cima de divergências e outras coisas antigas, como usar o comércio como elemento de guerra, como elemento militar. São coisas do passado que não vão mais vingar no futuro" analisa Tejon, em entrevista à Sputnik Brasil nesta quarta-feira (10).
"O acordo diz respeito a insumos, fundamentalmente, e vai atuar de maneira muito positiva no custo e na disponibilidade de insumos que geram seus derivados agroindustriais. É um início de um acordo de base", avalia Tejon.
O acordo entre os dois países acontece apesar da divergência política entre os governos de Brasil e Argentina. Jair Bolsonaro chegou a declarar torcida para a reeleição de Maurício Macri, que perdeu a disputa para Alberto Fernández. O atual presidente da Argentina, por sua vez, não esconde seu apreço pelo ex-presidente Lula – inclusive, celebrou a anulação das condenações do petista.
Para Tejon, esta atitude do governo Bolsonaro mostra "o prenúncio do que pode ser um belo movimento brasileiro" de deixar ideologias à parte na hora de fechar acordos comerciais. Segundo o analista, esta é uma estratégia "inevitável": caso contrário, ele destaca, o Brasil não teria a China como maior cliente comercial.
Por isso, Tejon avalia o acordo alcançado por Tereza Cristina como "o início de uma inteligência relacional e comercial de cooperação" do governo Bolsonaro. O especialista prevê, inclusive, o surgimento de mais integrações como esta no Mercosul.
"Nos demais países do Mercosul sem dúvida alguma, independente de afetos e desafetos entre seus presidentes, o que nós vamos ver é cada vez mais acordos comerciais que passam por cima de facções ideológicas, porque as facções ideológicas já morreram", afirma Tejon.
Os presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, e da Argentina, Alberto Fernández, terão um encontro bilateral em Buenos Aires no dia 26 de março. Em 30 de novembro, os líderes tiveram sua primeira reunião bilateral, realizada por videoconferência.