Após se tornar elegível e ter suas condenações na Operação Lava Jato anuladas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, Luiz Inácio Lula da Silva virou tema de conversa entre a Sputnik e o ex-governador do Ceará Ciro Gomes.
Perguntado sobre sua reação à retirada das acusações contra Lula, Ciro disse:
"A devolução dos direitos de Lula é a reparação do bom direito. Lula foi vítima de uma perseguição comandada pelo ex-ministro Sergio Moro. Desde 2016 venho alertando sobre as práticas pouco respeitáveis na condução desse processo. No entanto, não se pode dizer que as acusações foram retiradas. Lula segue respondendo perante a Justiça. O que mudou foi o lugar onde ele será julgado. O ministro Fachin tirou de Curitiba e enviou para Brasília para ser avaliado por outro juiz. Lula pode voltar a ser condenado".
O ex-ministro acredita que Lula tem importância para o Brasil. Contudo, não perdeu a oportunidade de lhe expressar crítica, em especial sobre a atividade na vida política do petista após o fim de seu mandato presidencial quando perguntado sobre as chances que o ex-presidente teria de participar nas eleições de 2022.
"Lula é um personagem importante da vida brasileira. Foi presidente e elegeu uma sucessora. No entanto, se encantou com o poder e achou que poderia seguir mandando sem mandato. Mas, quando pensamos no futuro, temos que dizer que o Brasil vive o pior momento socioeconômico de sua história", afirmou.
Avaliando a situação brasileira atual
Ciro apontou piora no cenário socioeconômico brasileiro nos últimos anos, ao passo que afirma que o Brasil cresceu muito pouco nos últimos 40 anos.
"São 14 milhões de desempregados, mais de 30 milhões de pessoas na informalidade e a fome voltou a rondar os lares de milhões de brasileiros e brasileiras. [...] Estamos vivendo o pior momento. No entanto, é importante dizer que, de 1980 até hoje, o Brasil cresceu pífios 2% ao ano em média. Nós tínhamos mais de 30% do nosso PIB oriundo da indústria. Hoje está por volta de 10%."
"E, de 1995 para cá, a política econômica é a mesma e ela produziu uma das maiores desigualdades do planeta, a maior concentração de renda. Para se ter ideia, apenas cinco bancos concentram mais de 80% das transações financeiras do país. E, hoje, o salário mínimo tem o pior poder de compra dos últimos 20 anos, a moeda brasileira é a que mais se desvalorizou no mundo."
Ciro também disse que possui um projeto desenvolvimentista para o país, ao passo que ressaltou que o Brasil está com indústria "definhando, mesmo com parcerias potencialmente generosas".
"Mais do que isso, nossa capacidade produtiva, nossa indústria está definhando, mesmo com parcerias potencialmente generosas, como poderia ser com a Rússia e com os demais membros do BRICS. É importante dizer que estamos nessa situação após 14 anos de governo de Lula e Dilma. Por isso, quero crer que o Brasil saberá olhar para frente. Tenho um livro publicado que foi best-seller no Brasil, com um projeto nacional de desenvolvimento que aponta todos os caminhos para recuperar o Brasil ao posto que ele merece entre as grandes economias do mundo."
Comentando a gestão do presidente Jair Bolsonaro diante da pandemia de COVID-19, Ciro também não economizou duras críticas, ao passo que tem esperanças em poder ajudar o país.
"A gestão criminosa e genocida do presidente Bolsonaro durante a pandemia agravou os problemas e vemos um cenário mais difícil", disse.
Lula fala de Ciro
Em discurso realizado nesta quarta-feira na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, Lula fez uma declaração que foi vista como um aceno velado a possíveis aliados na eleição de 200.
"A minha cabeça não tem tempo de pensar em candidatura em 2022. Se a gente ficar preocupado agora com brigas menores, a gente não constrói a possibilidade de uma aliança política", disse o petista.
Depois, em entrevista coletiva, Lula afirmou que Ciro "acha que é professor de Deus".
"Ele não pode falar de meninice. Se ele quer ser presidente, ele tem que respeitar as pessoas. Ele tem primeiro que se reeducar", afirmou o petista em entrevista coletiva após ser perguntado sobre uma frente ampla com pedetista. "Porque se ele continuar com essas grosserias todas, ele não vai ter apoio da esquerda, não vai ganhar confiança da direita e vai ter menos votos do que nas eleições que ele participou até agora. Ele tem que aprender, porque humildade não faz mal a ninguém", acrescentou.