Um alto funcionário de segurança iraniano na quarta-feira (17) culpou a "estratégia enganosa" do Ocidente pelo impedimento de qualquer renascimento das negociações nucleares, e não "problemas táticos" e a política interna de Teerã, como foi dito pelo ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian.
"Há um problema tático e também [uma questão] interna no Irã, que está em uma situação particular porque estamos muito próximos da [sua] eleição presidencial em junho", declarou Drian em audiência no Senado francês na terça-feira (16), citado pela agência Reuters.
A França, junto com o Reino Unido, a Alemanha e a União Europeia, estava, de acordo com a mídia, esforçando-se para trazer os EUA e o Irã para a mesa de negociações informais como um primeiro passo para reavivar o Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês).
Ali Shamkhani, secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã, respondeu às declarações de Le Drian no Twitter, afirmando que o impasse atual não é culpa de Teerã.
Nothing will happen unless the #UnitedStates takes effective actions to lift the oppressive #sanctions. The current stalemate is not tactical and domestic, but related to the West's deceptive strategy.#DecisiveWord
— علی شمخانی (@alishamkhani_ir) March 17, 2021
Nada acontecerá a menos que os EUA tomem ações eficazes para suspender as sanções opressivas. O atual impasse não é tático nem doméstico, mas está relacionado à estratégia enganosa do Ocidente.
Le Drian não detalhou qual seria o problema tático, mas acrescentou que embora houvesse uma vontade declarada de retornar às negociações, as tensões prevaleceram e era urgente acalmar a situação e seguir em frente.
Impasse nuclear
Em 2015, o Irã, China, França, Alemanha, Rússia, Reino Unido, Estados Unidos e União Europeia assinaram o JCPOA, estipulando o cancelamento das sanções internacionais aplicadas a Teerã em troca da redução do programa nuclear iraniano. O acordo foi consagrado na Resolução 2231 do Conselho de Segurança da ONU.
Em 2018, o governo de Donald Trump retirou unilateralmente os EUA do acordo nuclear, voltando a impor sanções ao Irã, às quais este último respondeu abandonando gradualmente seus próprios compromissos estipulados no acordo.
Em 4 de janeiro de 2021, Teerã anunciou que aumentaria o enriquecimento de urânio para 20%, nível anterior à assinatura do JCPOA, que fixava o percentual máximo deste indicador em 3,67%.
Autoridades iranianas expressaram esperança sobre a promessa de campanha eleitoral do democrata Joe Biden de levar os EUA de volta ao acordo nuclear. Mas, apesar de ter assumido o cargo em 20 de janeiro, o governo Biden não se apressou em retornar as negociações no âmbito do JCPOA.
Em vez disso, Washington exigiu que Teerã reduzisse drasticamente as atividades de enriquecimento e armazenamento de urânio e retornasse totalmente às obrigações decorrentes do acordo. A República Islâmica rejeitou as exigências, dizendo que os EUA devem suspender as sanções, já que foi o lado dos EUA que revogou seus compromissos com o acordo nuclear em primeiro lugar.