No final da década de 1960, os espeleólogos descobriram pegadas de pés humanos descalços, algo que impressionou bastante o grupo, pois deveriam ter sido os primeiros a descobrir o local, e de imediato informaram aos responsáveis pelos serviços culturais da região. Graças à sua descoberta e atitude responsável ante o achado em causa, esta formação geológica acabaria por ficar conhecida como a Galeria das Pegadas.
No total, mais de 1.200 pegadas foram contabilizadas dentro da caverna, cuja conservação foi possível graças ao isolamento do espaço, sem luz nem vento, onde a umidade é constante. Ana Isabel Ortega, arqueóloga do Centro Nacional de Investigação sobre a Evolução Humana (CENIEH, na sigla em espanhol) e da Fundação Atapuerca, destacou que "as cavernas são lugares com condições muito estáveis, favorecendo a preservação dos traços arqueológicos".
Por outro lado, o difícil acesso ao local também contribuiu para que outros humanos não tivessem chegado à gruta e comprometido as pegadas. "Tratando-se de impressões em argila fresca, qualquer movimento as poderiam destruir", explicou Ortega à Sputnik.
De quem seriam as pegadas?
Em 2012, a equipe de investigação do CENIEH introduziu um escâner no interior da estrutura, de modo a identificar as pegadas sem que nada lhes tocasse. A realização de moldes também teria sido considerada, mas isso acabaria por ser uma técnica mais destrutiva.
Após primeira análise, os pesquisadores examinaram a morfologia e a disposição das pegadas, com o âmbito de perceberem a quem pertenciam e quando teriam sido feitas. No total, foram reconstruídos até 18 trajetos individuais, especulando-se que pertenciam a um grupo composto por dez ou 11 indivíduos. Segundo as várias disposições das pegadas, a equipe supõe que o grupo teria explorado o interior da gruta e voltado para trás, junto a outros rastros, mostrando a possível exploração de determinadas partes da galeria enquanto outros estariam à sua espera.
Através do estudo de mais de 39 pegadas, os especialistas também puderam estimar a morfologia dos seres humanos que teriam atravessado a gruta. O tamanho de seus pés, impressos nas pegadas, indica que o grupo seria formado por adultos, medindo entre 1,73 a 1,80 centímetros de altura, uns com peso entre 91 e 99 quilos e outros entre 72 a 92 quilos. Deste modo, acredita-se que os indivíduos, em sua maioria, fossem homens, sendo que os donos de pegadas menores seriam, provavelmente, mulheres, mas não por isso menos robustas.
Em relação à idade das pegadas, isso é algo impossível de determinar. Contudo, utilizando datação por carbono nos restos de uma tocha na Galeria das Pegadas, os pesquisadores confirmaram que estes teriam uma idade compreendida entre 4.200 e 4.600 anos, correspondente à idade de outros registros nessa parte da gruta.
No momento, o estudo destas pegadas continua, e Ortega pretende analisar a maioria das pegadas milenares com mais ferramentas. Na verdade, ela comenta que "gostaria de ter um drone que não caísse" para ajudar em sua pesquisa. A arqueóloga voltou a exaltar sua enorme apreciação e respeito pelos arqueólogos de cinco décadas atrás. "É importante que os pesquisadores anteriores não tenham tocado em nada. Sempre deve-se deixar uma parte [da descoberta] para que os profissionais do futuro possam trabalhar nos restos com técnicas mais modernas. É uma lei da arqueologia", afirmou Ortega à Sputnik.
Os resultados dos estudos da Gruta Palomera, até agora, podem ser encontrados em uma monografia sobre os principais rastros de pegadas humanas pré-históricas do planeta, publicada pela Springer Nature, no capítulo 17, cobrindo uma viagem que partiu da França e da Inglaterra para a África ou Austrália.