Nesta quinta-feira (18), a Frente Nacional de Prefeitos (FNP), que reúne as 412 cidades com mais de 80 mil habitantes no Brasil, enviou ao presidente Jair Bolsonaro e ao Ministério da Saúde, segundo o G1, um ofício solicitando a adoção de "providências imediatas" para suprir a escassez de oxigênio e de medicamentos para a sedação de pacientes de COVID-19 que está sendo registrada em municípios de todo o país.
Segundo informações do conselho das secretarias municipais de Saúde, os níveis dos estoques públicos do chamado "kit intubação", que é composto por remédios para anestesia, sedação e relaxamento muscular, entre outros itens, estão críticos em vários estados e podem acabar nos próximos 20 dias.
De acordo com a FNP, prefeitos e prefeitas solicitam que o governo atue imediatamente para evitar que "as cenas trágicas e cruéis recentemente presenciadas em Manaus [AM] não se repitam em outras cidades brasileiras".
A Frente Nacional dos Prefeitos enviou um documento urgentíssimo ao @minsaude. Recebemos um alerta do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde de que kits de sedação e reservas de oxigênio estão em níveis críticos. Não podemos reviver cenas trágicas como as de Manaus.
— João Campos (@JoaoCampos) March 18, 2021
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), por sua vez, informou nesta sexta-feira (19) que publicará medidas regulatórias emergenciais para "enfrentar a escassez de medicamentos para intubação e suporte ventilatório de pacientes graves".
Segundo a agência reguladora, diante da ameaça sanitária enfrentada pelo Brasil, essas medidas vão desde "a flexibilização de critérios" até a "possibilidade de importação direta" por parte de "hospitais e redes hospitalares privadas, passando pela máxima agilização dos processos".
Nossa movimentação deu resultado. Depois do alerta que divulgamos sobre a falta de oxigênio em vários municípios do país, a @anvisa_oficial disse hoje que vai publicar medidas emergenciais. É uma medida urgente para que a situação não seja ainda pior.https://t.co/r6wv7bA1yQ
— FNP (@FNPrefeitos) March 19, 2021
De acordo com o médico Sylvio Provenzano, chefe do Setor de Clínica Médica do Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, e ex-presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (CREMERJ), a possibilidade de faltarem esses medicamentos em cidades como o Rio de Janeiro é pequena. No entanto, o especialista ressalta que, segundo informações que recebeu de colegas, há falta desses insumos em alguns lugares.
Em entrevista à Sputnik Brasil, Provenzano explica que esses medicamentos são necessários para os pacientes que estão intubados, "para que eles fiquem relaxados, de modo a conseguirem suportar a permanência por um tempo, que, normalmente, no caso da COVID-19, não é pequeno", acoplados ao respirador.
Segundo o especialista, é crucial que as autoridades de Saúde consigam repor os estoques do chamado "kit intubação", e também do oxigênio hospitalar, pois, sem esses insumos, é impossível oferecer uma assistência mínima aos pacientes de COVID-19, o que, evidentemente, acarretará em um aumento no número de óbitos.
"Faltar oxigênio é a morte, não tem jeito", frisa o ex-presidente do CREMERJ.
Para Provenzano, a produção nacional de oxigênio é considerada adequada para suprir os hospitais do país. No entanto, ele ressalta que é preciso que a população coopere para reduzir a disseminação do vírus e o consequente aumento da demanda por esse insumo, e também da pressão sobre o sistema de saúde em geral.
"É óbvio que a gente deve, em primeiro lugar, pedir às pessoas para se cuidarem, seguirem as regras de ouro, procurarem evitar aglomerações, usar a máscara, lavar as mãos, porque, havendo um aumento da demanda, por mais que hoje a situação ainda esteja relativamente administrável, [...] havendo um aumento crescente da demanda, eu temo pelo pior", afirma o especialista.
Nesse sentido, o chefe do Setor de Clínica Médica do Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro assinala que "o risco de colapso total existe, na medida em que o número crescente [de casos] não for interrompido", e reforça que, apesar de as autoridades serem responsáveis por fornecer insumos e fiscalizar a situação nos hospitais, é necessário que a população se conscientize para evitar o aumento de casos, e "não haja esse tão temido colapso", sentencia.