Liga Árabe à vista: quais as chances de Síria retornar à organização quase 10 anos após expulsão?

© Sputnik / Assessoria de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da RússiaEncontro em Abu Dhabi entre o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, e o ministro das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos, o xeque Abdullah bin Zayed Al-Nahyan, em 9 de março de 2021
Encontro em Abu Dhabi entre o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, e o ministro das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos, o xeque Abdullah bin Zayed Al-Nahyan, em 9 de março de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 20.03.2021
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Ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, fez viagem de três etapas ao Oriente Médio na semana passada. Retorno da Síria à Liga Árabe foi uma das pautas de destaque.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, viajou para os Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Qatar na semana passada. Um dos temas paralelos da turnê foi discutir a retomada da Síria à Liga Árabe – uma organização regional de Estados árabes que visa coordenar os programas políticos, culturais, econômicos e sociais de seus membros – após sua suspensão em novembro de 2011.

A readmissão da Síria à Liga Árabe corresponde aos interesses do povo da Síria e da região em geral, afirmou o ministro das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos, o xeque Abdullah bin Zayed Al-Nahyan, durante uma coletiva de imprensa ao lado do homólogo russo, Sergei Lavrov.

"O retorno da Síria à comunidade árabe e a manutenção de seus papéis-chave na Liga Árabe são necessários", destacou o xeque Abdullah. "Portanto, o lado sírio e nossos colegas da Liga Árabe também devem cooperar para que isso aconteça", enfatizou.

O ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita, Faisal bin Farhan Al Saud, foi mais lacônico, dizendo à imprensa que a Síria deveria retornar "ao abraço árabe e alcançar estabilidade e segurança". Em janeiro de 2021, Moscou e Riad concordaram sobre a "importância de a Síria retornar à Liga Árabe o mais rápido possível", acrescentando, porém, que "muitos problemas terão de ser resolvidos ao longo do caminho".

Em contraste com seus vizinhos do Golfo, o ministro das Relações Exteriores do Qatar, Mohammed bin Abdulrahman Al-Thani, sugeriu que as razões para a suspensão da Síria da Liga Árabe em 2011 permanecem válidas.

No início deste ano, outros membros da principal aliança árabe também falaram a favor do retorno da Síria. Em fevereiro, o ministro das Relações Exteriores do Iraque, Fuad Hussein, defendeu a medida durante reunião com o secretário-geral do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC), Nayef bin Falah al-Hajraf. Seu homólogo egípcio Sameh Shoukry enfatizou que "o retorno da Síria à Liga Árabe como um Estado estável e ativo seria vital para manter a segurança nacional árabe", enquanto discursava no Conselho de Ministros das Relações Exteriores da Liga Árabe em março.

A Liga Árabe e a guerra civil na Síria

Quase dez anos atrás, a Síria foi suspensa da Liga Árabe após confrontos entre as forças do governo e grupos armados de oposição. A República Árabe, um dos seis membros fundadores da entidade, denunciou a ação como "ilegal e uma violação do estatuto da organização".

© SputnikPosicionamento das forças na Síria passados 10 anos de conflito
Liga Árabe à vista: quais as chances de Síria retornar à organização quase 10 anos após expulsão? - Sputnik Brasil, 1920, 20.03.2021
Posicionamento das forças na Síria passados 10 anos de conflito

Em março de 2012, o grupo pan-árabe decidiu ceder seu assento à Coalizão Nacional das Forças Revolucionárias e de Oposição da Síria, grupo de oposição que ostentava o apoio de quase 100 Estados, incluindo os EUA.

No entanto, dois anos depois, o secretário-geral da Liga Árabe, Nabil al-Arabi, anunciou que o assento da Síria no grupo permaneceria vago. Após o envolvimento da Rússia nos assuntos do país em 2015 a pedido do governo sírio, uma ponta de esperança apareceu para o retorno de Damasco à aliança pan-árabe, gerando interesse dos principais Estados do Golfo em restabelecer a adesão do país à liga.

Em dezembro de 2018, o presidente sudanês, Omar al-Bashir, se tornou o primeiro líder da Liga Árabe a visitar a Síria após sua expulsão, criando ainda mais expectativas para a readmissão. No mesmo mês, os Emirados Árabes Unidos reabriram sua embaixada na capital Damasco, incentivando outros países a realizarem o mesmo.

No entanto, cerca de três meses depois, foi divulgado que o governo Trump havia feito lobby com sucesso com os Estados do Golfo para colocar freios no restabelecimento dos laços com a Síria.

Novas tentativas de trazer a Síria de volta

Apenas em fevereiro de 2020, o presidente argelino Abdelmajid Tebboune retomou os pedidos de readmissão da Síria à entidade pan-árabe enquanto o ministro da Indústria e Comércio da Jordânia visitava Damasco.

Enquanto isso, a vitória de Joe Biden em novembro de 2020 deu calafrios às monarquias do Golfo devido aos planos do novo governo dos EUA de retomar o acordo nuclear com o Irã e suspender as sanções ao país.

Mais recentemente, no início de março deste ano, o jornal Arab News, de Riad, publicou um artigo de opinião intitulado "Por que a Liga Árabe deve buscar a reconciliação com a Síria" do comentarista político saudita Zaid M. Belbagi.

De acordo com Belbagi, a crença comum dos governos árabes é que eles deveriam desempenhar um papel primordial no enfrentamento da crise síria. Ele acrescentou que a Liga Árabe já retomou algumas de suas atividades em Damasco pela primeira vez desde novembro de 2011.

"Depois de uma década de conflito, está claro que Assad provavelmente permanecerá no poder por um futuro próximo", escreveu o comentarista. "E, com isso, Damasco está prestes a recuperar sua centralidade no Oriente Médio [...] A Liga Árabe agora deve trabalhar em prol da reconciliação."
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