Na terça-feira (23), em uma entrevista para o The Guardian, Agnes Callamard, investigadora das Nações Unidas, disse que foi ameaçada de morte duas vezes por um alto funcionário saudita após sua colaboração na investigação da morte do jornalista, Jamal Khashoggi, em 2018.
A ameaça aconteceu em Genebra, na Suíça, em janeiro de 2020, durante uma reunião entre diplomatas sauditas e autoridades da ONU. Durante o encontro, os sauditas criticaram o trabalho de Callamard, expressando sua raiva e descontentamento em relação à investigação, segundo a mídia.
As autoridades sauditas também levantaram alegações de que ela havia recebido dinheiro do Qatar, que por sinal, é um refrão frequente contra os críticos do governo da Arábia Saudita, de acordo com o The Guardian.
A investigadora afirmou que um dos principais oficiais sauditas teria então dito que havia recebido ligações de indivíduos que estavam preparados para "cuidar dela" por duas vezes.
"Foi relatado para mim na época e foi uma ocasião em que as Nações Unidas estavam muito em cima desse acontecimento. As pessoas que estiveram presentes [na reunião], e também posteriormente, deixaram claro para a delegação saudita que isso era absolutamente inapropriado e que havia a expectativa de que isso não fosse adiante", contou Callamard.
Em junho de 2019, a investigadora divulgou um relatório concluindo que havia "evidências confiáveis" de que o príncipe saudita, Mohammed bin Salman, e outros oficiais sauditas eram responsáveis pelo assassinato de Khashoggi, declarando o episódio como um "crime internacional".
"Sabe, essas ameaças não funcionam comigo. Bem, eu não quero pedir mais ameaças. Mas tenho que fazer o que tenho que fazer. Isso não me impediu de agir de uma maneira que considero a coisa certa a fazer", disse Callamard na entrevista.
O acontecimento reforça a opinião de especialistas em direitos humanos de que o governo da Arábia Saudita agiu com impunidade após o assassinato do jornalista, incluindo prisões arbitrárias de críticos e rivais de Mohammed bin Salman.
O jornalista saudita, Jamal Khashoggi, entrou no consulado de seu país em Istambul, na Turquia, no início da tarde do dia 2 de outubro e nunca mais saiu, sendo encontrado torturado e esquartejado dias depois.
Em 26 de fevereiro desse ano, outro relatório, divulgado pela inteligência dos EUA, confirmava a participação do príncipe saudita na morte do jornalista.