No último sábado (20), a imprensa da Islândia informou que o navio Taurus Confidence atracou no porto de Reydarfjordur, no leste do país, com dez de seus 19 tripulantes infectados com a variante brasileira do novo coronavírus.
O navio zarpou de São Luís, no Maranhão, com uma carga de alumina calcinada, a principal matéria-prima para a fabricação de alumínio, destinada a uma usina de beneficiamento no local.
Desde então, a embarcação com bandeira das Ilhas Marshall permanece isolada no porto da cidade, sob vigilância policial. Os tripulantes, todos de origem chinesa, foram colocados em quarentena, enquanto os infectados permanecem isolados dentro da embarcação.
Ekkert nýtt smit hefur greinst um borð í flutningaskipinu Taurus Confidence, sem kom til hafnar í Reyðarfirði á laugardag. https://t.co/3BtkjshKr2 pic.twitter.com/q3IwxnfBdm
— mbl.is (@mblfrettir) March 24, 2021
Nenhuma nova infecção foi detectada a bordo do cargueiro Taurus Confidence, que chegou ao porto de Reydarfjordur no sábado [20].
Segundo as autoridades islandesas, o capitão do navio informou, dias antes da chegada da embarcação, que sete tripulantes estavam apresentando sintomas da doença. As autoridades então decidiram recolher amostras de todos os tripulantes e constataram que dez deles estavam infectados com a variante P.1, cuja origem é estimada em Manaus, no Amazonas.
A confirmação da presença da cepa P.1 deixou as autoridades sanitárias da nação nórdica em alerta, já que era o único país da região que ainda não tinha registrado casos da variante brasileira. Apesar de a situação estar controlada neste momento, os islandeses temem que algum dos infectados piore e necessite ser levado ao hospital.
Após esse episódio, a Sputnik Brasil conversou com José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), para entender como esse incidente pode afetar as exportações brasileiras daqui para frente, levando em conta o fato de que o país é o atual epicentro dos casos mundiais de pessoas infectadas pelo novo coronavírus, superando as 3.000 mortes diárias para a COVID-19.
José Augusto avalia que, "assim como aconteceu no ano passado com muitos navios de turismo", o problema da pandemia também começa a afetar os navios de carga. Na opinião do especialista, apesar de a situação envolvendo o navio cargueiro na Islândia representar um fato novo, não se pode dizer que não era esperado.
"Não deixa de ser uma surpresa a detenção desse navio, mas, infelizmente, ela era esperada. Possivelmente, em outros navios também acontecerá a mesma coisa" avalia.
Na opinião do especialista ouvido pela Sputnik Brasil, o episódio na Islândia evidencia que será necessário adotar, tanto por parte das autoridades brasileiras como pelos comandantes e tripulantes dos navios, "medidas mais rígidas" para evitar a propagação do vírus, pois trata-se de uma "realidade da qual nós não podemos fugir e temos que estar preparados para [...] tomar as providências cabíveis".
O especialista, no entanto, ainda acha que é cedo para avaliar quais serão os impactos da detenção desse navio sobre o comércio exterior brasileiro. Ele não descarta a possibilidade de algum atraso, ou até mesmo cancelamento, nos pedidos, mas avalia que ainda é difícil afirmar se isso realmente vai acontecer.
"Avaliar hoje o impacto que essa detenção do navio pode ter sobre o comércio exterior brasileiro é muito difícil, porque, seguramente, as causas serão diferentes em cada caso. Mas, não podemos esquecer que o risco existe, é real, não é um risco imaginário. Na medida em que o vírus se propaga para o mundo [...] ele vai criando novas áreas de atuação do vírus, fazendo com que isso afete os negócios comerciais", opina.
Para José Augusto, é evidente que "o fato de o Brasil estar hoje no epicentro da pandemia [...] faz com que o país, infelizmente, seja avaliado pelo mundo comercial de forma negativa". Mas ele ressalta que ainda é difícil "aquilatar exatamente os impactos que a COVID-19 vai ter sobre o comércio exterior brasileiro e também sobre o comércio mundial"
"Muitos países também começam a ter problemas, [...] [a pandemia] não é um problema do Brasil, ela é um problema do mundo", finaliza.