O Instituto Butantan, ligado ao governo do estado de São Paulo, anunciou nesta sexta-feira (26) que está desenvolvendo uma vacina totalmente brasileira contra o novo coronavírus.
Batizado de ButanVac, o imunizante já teria passado pelas fases pré-clínicas de testes, feitas em cédulas de laboratório e em animais, e supostamente obteve bons resultados.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o especialista em bioquímica e imunologia, Marco Antonio Stephano, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), disse que "é essencial o Brasil conseguir dominar a tecnologia e ter capacidade de produção" de uma vacina nacional contra a COVID-19.
"O custo de uma vacina produzida nacionalmente com insumo nacional sairia pelo menos dez a 20 vezes mais barato do que a importada. Vale a pena", afirmou.
O Butantan informou que pedirá autorização à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar os estudos clínicos em voluntários.
O Butantan anuncia a criação da ButanVac, a 1ª vacina 100% brasileira contra Covid-19. A produção deve começar ainda este ano, na fábrica que hoje faz a vacina contra Influenza. A ButanVac será entregue ao Brasil ainda em 2021. Grande notícia. #Podeconfiar #VacinadoButantan pic.twitter.com/nXzayYDWSa
— Instituto Butantan (@butantanoficial) March 26, 2021
Segundo o diretor do instituto, Dimas Covas, a expectativa do Butantan é a de que, uma vez obtida a autorização pela Anvisa, os testes já possam ser iniciados em abril.
'Se mostrar eficácia, ButanVac pode ser aplicada em seis meses'
Pelas estimativas de Stephano, considerando o procedimento que ocorreu com outros imunizantes, é possível que, se a vacina for segura e aprovada pela Anvisa, ela pode vir a ser aplicada daqui a seis meses.
"Essa vacina poderia estar disponível em seis meses se conseguirmos ter a velocidade prometida pelo Ministério da Saúde. Vacinamos até agora cerca de 6,5% da população com a primeira dose e 2,1% com a segunda dose. Nós temos ainda 90% da população brasileira que poderia receber a vacina e que não recebeu. É o momento certo do Butantan pedir para fazer os testes", disse.
Outro ponto de destaque para Stephano é que o SARS-CoV-2 pode continuar em circulação pelos próximos cinco anos, fazendo com que seja interessante para o Brasil deixar de recorrer a outros países para conseguir vacinar a população.
"A gente não pode ficar dependendo de mercado estrangeiro, porque hoje as relações diplomáticas podem estar bem e amanhã, não. O que nós estamos vendo na Europa com as vacinas, inclusive aquelas produzidas na União Europeia, é que elas estão sendo distribuídas para outros países, e a própria UE não está recebendo. Isso pode acontecer com a gente também", comentou.
'Brasil pode vir a exportar ButanVac para outros países'
Dimas Covas afirmou também que a vacina foi enviada para outros países na fase pré-clínica, e que testes feitos em animais na Índia "apontaram resultados excelentes".
Para Marco Antonio Stephano, se a vacina mostrar eficácia satisfatória, o Brasil poderia inclusive "exportar doses para outros países".
"A tecnologia é muito semelhante com a da vacina de influenza para a qual o Butantan já tem uma fábrica. Lembrando que, por enquanto, essa fábrica ficava ociosa durante quatro ou cinco meses, que era o período que não se produzia [a vacina contra a influenza]", informou.
Como andam as campanhas de vacinação pelo mundo afora?https://t.co/EdWpyk78iB
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) March 26, 2021
O Instituto Butantan também anunciou que vai enviar todas as informações da ButanVac à Organização Mundial de Saúde (OMS) para que o órgão acompanhe o desenvolvimento dos testes clínicos desde o início.
O pedido de autorização feito pelo Butantan refere-se às fases 1 e 2 de testes da vacina. Nessa etapa serão avaliadas a segurança e a capacidade de promover resposta imune a partir dos testes em 1.800 voluntários. Já na fase 3, até 9.000 pessoas vão participar, e a etapa vai estipular qual será o percentual de eficácia do imunizante
A meta é encerrar os testes e ter 40 milhões de doses da vacina prontas antes do final de 2021, segundo o governo de São Paulo.
"É possível aumentar a produtividade dessa vacina em milhões por mês. Se houver necessidade e interesse político, há a possibilidade de produção de 100 milhões de doses em dois meses", completou Marco Antonio Stephano.