Hoje (26) é o primeiro dia do superferiado de dez dias nas duas maiores cidades do Brasil: tanto São Paulo como Rio de Janeiro adiantaram alguns feriados, além de criar outros, para evitar a circulação de pessoas e tentar frear o avanço da pandemia.
Muitos defendem que, por um lado, a medida favorece o isolamento social, que é essencial para a diminuição do número de casos e mortes pela COVID-19. Por outro lado, a decisão prejudicaria a economia, já que causa queda na renda de muitos comerciantes. Para Maciel, no entanto, esta é uma falsa dicotomia.
"As pessoas que adoecem e as pessoas que morrem, elas não consomem. Então nós precisamos ter pessoas saudáveis, trabalhadores saudáveis, para que a gente possa inclusive movimentar a economia. Então não é possível colocar essa dicotomia [entre saúde e economia]. Ela é falsa", afirma Maciel.
Por este motivo, a epidemiologista destaca a importância do auxílio emergencial tanto como medida de saúde pública, já que é uma renda essencial para a parcela mais carente da população brasileira, e também econômica, para movimentar o comércio brasileiro.
Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio, também exalta o auxílio emergencial, que considera essencial para o enfrentamento da pandemia.
"Uma outra medida que deve ser adotada é a flexibilização das relações de trabalho, dos contratos de trabalho. Também a suspensão do contrato de trabalho e a redução proporcional do salário às horas trabalhadas… Mais cedo ou mais tarde estas medidas vão ter que ser retomadas", avalia Bentes, em entrevista à Sputnik Brasil.
Falta clareza nas medidas, dizem comerciantes
Os superferiados no Rio e em São Paulo impõem também restrições nas atividades econômicas. Atividades não essenciais, como salões de beleza, lojas de roupas e eletrônicos, não podem abrir. Farmácias, supermercados e pet shops podem continuar abertos. Bares e restaurantes só podem atender por delivery.
Enquanto para alguns estabelecimentos as medidas são claras, em outros casos os profissionais ainda não sabem se podem trabalhar ou não. É o caso do ambulante Artur Oliveira, que vende acessários para celular em Laranjeiras, na zona sul do Rio de Janeiro. "Não sei se vou poder trabalhar. […] Esta medida me prejudica, porque eu não tenho emprego, meu emprego é esse. Complica a renda", diz o ambulante.
O empresário Felipe Augusto, dono de um bar e de uma banca de jornal, concorda que há falta de clareza quanto às medidas. Ele lembra ainda que, muitas vezes, o que vale na prática não é a medida oficial tomada pelo poder público, e sim a interpretação dos agentes que fiscalizam as medidas.
"Ele [o guarda municipal] vem aqui e manda arriar as portas todas do estabelecimento. Não respeita a gente, é completamente autoritário, completamente agressivo. A gente fica com medo de ser agredido, porque a gente vê na televisão as pessoas sendo enforcadas, sendo estranguladas até quase a morte", diz Felipe Augusto.
Já a comerciante Andreia Almeida, que trabalha em uma banca de jornal, diz discordar da medida. Segundo ela, mesmo os estabelecimentos que ficarem abertos terão venda reduzida, por conta do movimento restrito: "Eu sou totalmente contra, porque eu acho que há muitos outros lugares abarrotados de gente que não estão sendo levados em consideração".
'Nós precisamos seguir a ciência', alerta epidemiologista
Por conta de casos como estes, Bentes defende o escalonamento do funcionamento do comércio com um limite para a lotação das lojas.
"Ao invés de se restringir o horário de operação dos estabelecimentos, ele deveria ser ampliado mediante uma determinada capacidade de lotação, que seja 40% ou 50% do estabelecimento. Isso iria diminuir a aglomeração de pessoas, ajudaria a economia porque os estabelecimentos não seriam fechados, e evitaria ou minimizaria bastante a contaminação de consumidores", diz o economista.
Maciel ressalta também a importância do papel do Estado no provimento, não só de medidas públicas, mas também de desafogo da economia e de benefícios para os cidadãos. A epidemiologista destaca que, independente da medida a ser tomada, o importante é que as autoridades públicas sigam a ciência para definir as decisões mais eficazes no combate contra a COVID-19.
"Nós precisamos seguir a ciência e comunicar corretamente a sociedade, para que ela compreenda, para que ela possa fazer a adesão a essas medidas. […] Então é preciso que as nossas autoridades deem o exemplo. É o que está faltando desde o início", conclui Maciel.