A Embaixada da Rússia em Berlim afirmou na sexta-feira (26) que ficou perplexa com a observação do embaixador polonês na Alemanha, Andrzej Przylebski, de que o projeto do gasoduto Nord Stream 2 (Corrente Norte 2) serviria para impulsionar os gastos militares da Rússia e, portanto, deve ser interrompido.
"O que mais nos incomoda é que a Rússia está recebendo ainda mais dinheiro para seus gastos militares dessa forma", disse Przylebski em entrevista recente à emissora alemã RND. O embaixador acrescentou que a principal razão pela qual Varsóvia se opõe veementemente ao projeto de energia liderado por Moscou é porque se sente "ameaçada" pela Rússia.
Przylebski questionou ainda a posição atual da Alemanha, que parece querer agradar aliados ocidentais sem abrir mão do projeto de energia.
"É estranho que a Alemanha, por um lado, apoie as sanções [contra a Rússia] e, por outro lado, dê a [Vladimir] Putin [presidente da Rússia] grandes somas de dinheiro para gastos militares. Os europeus não deveriam fazer isso. Devemos enfraquecer os russos", sentencia Przylebski, que conclui afirmando que, se for necessário, a Polônia está preparada para combater os russos.
Resposta russa
A retórica do embaixador polonês, que apela para que a Europa "enfraqueça" a Rússia "agressiva" e "abertamente hostil", é "decepcionante e desconcertante", afirma a missão diplomática russa na Alemanha em comunicado.
"A Rússia não tem planos de atacar ninguém", lê-se na nota da embaixada, rejeitando a suposição de Przylebski de que a receita do projeto, que ainda está em construção, abasteceria de alguma forma a máquina de guerra da Rússia.
A Rússia gasta com seus militares apenas o dinheiro suficiente para garantir sua própria segurança e manter uma capacidade defensiva adequada, disse a embaixada russa, acrescentando que não é Moscou, mas a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), da qual a Polônia faz parte, que está movendo suas forças mais para o leste, para as fronteiras da Rússia. O orçamento de defesa de Moscou também é 24 vezes menor do que o da aliança militar, reiterou a embaixada.
A embaixada sugere que a oposição de Varsóvia ao projeto não se deve a alguma suposta ameaça à segurança, mas sim ao desejo de que o gás russo fluísse pela antiga rota de abastecimento, o que permitiria o país vizinho lucrar com o trânsito: "Aparentemente, este é o verdadeiro objetivo da Polônia". O abastecimento de gás da Rússia à Europa depende da demanda, observou a embaixada, acrescentando que a demanda dificilmente diminuiria simplesmente porque a Polônia consegue levar adiante sua agenda.
Campanha contra Nord Stream 2
O projeto Nord Stream 2 prevê a construção de duas linhas de um gasoduto com uma capacidade total de 55 bilhões de metros cúbicos de gás por ano da costa russa através do mar Báltico até a Alemanha. Até o momento, os EUA já impuseram duas rodadas de sanções ao Nord Stream 2.
Essas sanções levaram a AllSeas, uma empreiteira de construção com sede na Suíça, a desistir do projeto, afirmando que as penalidades eram "esmagadoras e potencialmente fatais" contra a empresa.
Em fevereiro, os ministros das Relações Exteriores da Polônia e da Ucrânia instaram o presidente dos EUA, o democrata Joe Biden, a fazer o possível para "pôr fim" ao projeto do gasoduto.
No início desta semana, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, argumentou que o Nord Stream 2 vai contra os interesses da União Europeia e poderia "minar os interesses da Ucrânia, da Polônia e de uma série de parceiros e aliados próximos".
Washington pode muito bem ter um interesse comercial em fazer a Europa abandonar o projeto também. Políticos russos e até mesmo alemães disseram repetidamente que os EUA podem simplesmente estar abrindo um nicho para as vendas de gás natural liquefeito (GNL) norte-americano na Europa.
A Alemanha tem rejeitado repetidamente a perspectiva de novas sanções extraterritoriais contra o projeto, chamando os esforços dos EUA e aliados nessa direção de uma "usurpação da soberania" e alertando que está coordenando de perto a questão com seus parceiros da União Europeia. Berlim afirma que o Nord Stream 2 é vital para a segurança energética da Alemanha e da Europa. O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, disse anteriormente que a principal prioridade de Berlim é criar as condições para a conclusão do Nord Stream 2.
A Rússia alertou repetidamente contra a politização do que considera um projeto puramente econômico. O gasoduto, que passa sob o mar Báltico, está atualmente mais de 95% concluído.