Além das incontáveis estrelas junto com um buraco negro de quatro milhões de vezes a massa do Sol, os pesquisadores identificaram esse misterioso excesso de radiação gama que se espalha pela região central da galáxia. Em dados do telescópio Fermi da NASA, os físicos Lisa Goodenough e Dan Hooper encontraram excesso de radiação gama – uma das luzes mais energéticas do Universo – ainda em 2009, mas não sabiam o que estaria causando o fenômeno.
O físico Mattia Di Mauro, do Instituto Nacional de Física Nuclear na Itália, aponta para a matéria escura como a causa do evento, chamado pelos cientistas de Excesso de Raios Gama do Centro Galáctico (GCE, na sigla em inglês). A pesquisa foi publicada na Physical Review D e o segundo artigo está disponível no arXiv.
As galáxias giram muito mais rápido do que deveriam se apenas fossem influenciadas gravitacionalmente pela matéria normal nelas. A matéria escura a mais é que estaria influenciando, portanto, a gravidade adicional na Via Láctea. No entanto, o que quer que esteja criando a gravidade adicional está além da capacidade científica de detecção direta.
Cientistas estimam que aproximadamente 80% de toda a matéria no Universo é matéria escura, embora não possamos ver nem um pedaço dela. Goodenough e Hooper propuseram que, se certas partículas de matéria escura chamadas WIMPS (partículas massivas de interação fraca) e suas antipartículas colidissem, elas se aniquilariam, explodindo em uma chuva de outras partículas, incluindo fótons de raios gama.
Nem todos os físicos ficaram convencidos com a explicação e surgiram outras teorias sobre a influência de estrelas mortas causando o excesso e novas linhas de pensamento sobre a radiação gama produzida pela matéria escura.
Atualmente, a explicação mais plausível é o estudo de Di Mauro, que compara os dados do telescópio Fermi nos últimos 11 anos com medições de outras anomalias astronômicas minimizando as incertezas introduzidas pela radiação de fundo. Isso forneceu informações sobre a distribuição espacial do GCE que podem ajudar a afastar várias explicações.
"Meu estudo, por outro lado, destaca como a distribuição espacial do excesso não muda em função da energia", explicou Di Mauro. Isso nunca havia sido observado antes e poderia ser explicado pela matéria escura, uma vez que pensamos que as partículas de matéria escura deveriam ter energias semelhantes.
"A análise mostra claramente que o excesso de raios gama está concentrado no centro galáctico, exatamente o que esperaríamos encontrar no coração da Via Láctea se a matéria escura fosse de fato um novo tipo de partícula", detalhou o físico.
Quanto ao que é essa partícula, ainda é um grande mistério. Os pesquisadores ainda não encontraram a origem, mas eles disseram que são compatíveis com o GCE e que não podem afirmar que a matéria escura também não está causando isso. Basicamente, tal brilho excessivo segue tão enigmático como sempre foi, e serão precisas muito mais observações para desvendá-lo.