O protótipo do veículo em tamanho reduzido foi apresentado em Gavião Peixoto, no interior de São Paulo, na quarta-feira (24). Na apresentação, o "carro voador" decolou da sede da Embraer. O veículo elétrico de decolagem e pouso vertical (eVTOL, na sigla em inglês) foi desenvolvido pela Eve Urban Air Mobility Solutions (EVE), empresa independente criada pela Embraer através de sua subsidiária, a EmbraerX.
"O estudo sobre o ecossistema de mobilidade aérea futura começou em 2017, com a EmbraerX, o braço de negócios disruptivos da Embraer. Em outubro de 2020, surgiu a primeira spin-off da EmbraerX, a EVE, empresa responsável agora por conduzir o conceito sobre este novo modal de transporte aéreo", detalhou a Embraer em resposta à Sputnik Brasil.
O protótipo de dez hélices faz parte de um projeto com o objetivo futuro de transportar passageiros em ambientes urbanos de forma autônoma, sem a necessidade de pilotos. A empresa criada pela Embraer busca desenvolver ainda outras tecnologias necessárias para a utilização desse tipo de veículo nas cidades, como serviços e a criação de soluções de gestão de tráfego aéreo urbano.
"A EVE acredita que a mobilidade aérea urbana futura deve iniciar nas grandes metrópoles ainda nesta década. A empresa conta com a estrutura de engenharia e pesquisa da Embraer para avançar no conceito. O eVTOL é uma parte deste projeto, que também envolve controle de tráfego aéreo e serviços correlatos", acrescentou a empresa.
A Embraer divulgou um vídeo sobre o desenvolvimento do veículo.
Protótipo da Embraer mostra 'elevada capacidade' de desenvolvimento no Brasil
Segundo o economista Marcos José Barbieri, professor da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), o protótipo da Embraer se caracteriza por ser um novo tipo de veículo, derivado de um "conjunto de inovações tecnológicas" que surgiram ao longo dos últimos anos, como baterias de alta capacidade e materiais leves para a composição de estrutura.
"Essa tecnologia é uma tecnologia que está sendo desenvolvida agora, nós estamos no processo de desenvolvimento dessa tecnologia que está levando ao desenvolvimento desse tipo de veículo, esse novo tipo de veículo. Não é um helicóptero, não é um avião, não é um carro voador, é um veículo específico", afirma o professor em entrevista à Sputnik Brasil.
O especialista em aviação comercial e de Defesa explica que objetivo de tornar o veículo autônomo exige tecnologias de informação e comunicação de alta velocidade. Segundo Barbieri, o 5G seria uma tecnologia "base" para esse avanço, que inclui a transformação e a construção de estruturas para cidades inteligentes.
"Em um primeiro momento, a tendência é que esses veículos, os primeiros protótipos, como esse apresentado, sejam inicialmente pilotados, tenham pilotos, e no futuro isso venha ser substituído por controle autônomo", aponta o professor, lembrando que essa autonomia exige estruturas de comunicação de ponta nas cidades.
Barbieri ressalta que veículos como o protótipo da Embraer estão sendo desenvolvidos por algumas empresas no mundo, incluindo uma divisão da Uber, e que a companhia brasileira é "uma das pioneiras" na tecnologia.
"Esse projeto tem uma importância muito grande para a Embraer e eu diria para o Brasil. A Embraer, até pouco tempo atrás, teve algumas questões relacionadas a se ela poderia sobreviver sozinha, sem nenhum parceiro. E ela está demonstrando que ela não só pode sobreviver, mas que ela é uma das empresas líderes do mercado aeronáutico", avalia.
Em 2020, a Embraer chegou a ter uma fusão negociada com a Boeing, mas a empresa norte-americana desistiu do negócio em meio à crise da pandemia da COVID-19.
O professor da UNICAMP destaca que a Embraer demonstra alta capacidade de engenharia, liderando inovações em diversos segmentos, como de aeronaves comerciais e executivas. No caso do protótipo apresentado através de sua subsidiária, a EmbraerX, Barbieri destaca a "elevada capacidade" da empresa no setor de desenvolvimento.
"Isso é muito importante, obviamente, no caso, para a Embraer, mas também para o Brasil. Mostra que no Brasil nós podemos também nos posicionar em setores de ponta, em setores avançados nacionais", afirma o professor, que vê a Embraer se posicionando com o protótipo como protagonista em um mercado importante que se abre. "Estamos olhando aqui para o futuro e à maneira que é importante, em que nós possamos estar nos inserindo agora para participarmos de forma ativa nesse futuro, não só como consumidores, mas como produtores dessa tecnologia", aponta Barbieri.