A testagem em massa teria sido o meio mais eficiente e barato de tentar controlar casos, mas nunca foi realmente efetivado por aqui, dizem os especialistas, sendo que a baixa testagem para COVID-19 durante a pandemia no Brasil tem sido motivo de críticas por maquiar a magnitude da doença no país.
Para explorar o tema a Sputnik Brasil entrevistou Giliane Trindade, virologista do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ela avaliou que se for considerar o histórico desde o momento em que a pandemia chegou ao Brasil, houve um aumento da capacidade de testagem em todo o território nacional, mas que nunca foi suficiente.
"Conseguimos construir redes públicas, os laboratórios privados conseguiram incorporar esse diagnóstico, mas de uma forma geral isso ainda sempre ficou muito aquém do que era recomendado pela OMS, pelos especialistas e sanitaristas. Em um segundo momento, eu vejo a entrada daqueles testes rápidos de detecção de antígeno como uma perspectiva da expansão da testagem no Brasil. Mas novamente percebo que não é uma questão que atinge a população, a massa", continuou Giliane.
A especialista lembrou que o Brasil é um dos países que menos fazem testes para COVID-19, e, quando feitos, eles têw uma abordagem focada principalmente na presença dos sintomas, por isso ela não considera que o país tenha uma política de testagem para que houvesse um bom controle e manejo da pandemia.
Testar ou vacinar?
Perguntada sobre o que é melhor, testar ou focar nas vacinas, Giliane tem a opinião de que uma coisa não exclui a outra e elas tem objetivos distintos.
"Quando a gente amplia essa testagem, amplia a nossa capacidade de controle sobre a disseminação do vírus e tem capacidade de atuar, de montar uma rede de isolamento, de interditar o indivíduo que está infectado. Então se consegue ampliar as possibilidades de manejo, o que não exclui a necessidade da vacina. Na minha forma de entender as coisas deveriam caminhar juntas, tanto na ampliação da testagem quanto da distribuição das vacinas", continuou a virologista.
Considerando o cenário de caos absoluto, segundo ela, que o país vive no momento, é urgente a ampliação da campanha de imunização, porque protegerá contra o desenvolvimento da doença, ação que já deveria ter sido trabalhada há muito tempo.
A Fiocruz, que já entregou 5,8 milhões de doses ao Ministério da Saúde, prevê fabricar mais 18,8 milhões de injeções em abril https://t.co/IwXEwjExl7
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) March 30, 2021
"Eu considero que a testagem ainda está aquém, ela sempre foi aquém se a gente for pensar em um padrão do que seria o desejável. Eu acho que mesmo com a entrada dos testes rápidos, eles não são acessíveis à grande parte da população, continuamos ainda com a questão de testar os sintomáticos, esse manejo do assintomático ainda deixa a desejar [...] Então eu acho que ainda são feitos poucos testes no Brasil", finalizou a especialista.
Além da baixa testagem, o Brasil também só consegue sequenciar o genoma de uma parcela mínima dos casos confirmados de COVID-19, dificultando o acompanhamento das novas variantes, como a P1, que se originou em Manaus no fim do ano passado e que tem causado temor pelo mundo a fora, devido a uma possível maior transmissibilidade e resistência a anticorpos de infecções anteriores.