Especialistas demonstram incertezas sobre a validade do acordo de investimento que a União Europeia (UE) fechou com a China no final de dezembro. Isso porque Pequim atingiu na semana passada legisladores europeus de cada um dos principais grupos partidários em retaliação às sanções da UE contra quatro autoridades chinesas envolvidas em supostos abusos dos direitos humanos em Xinjiang.
A situação tornou mais complicada a ratificação do tratado pelo Parlamento Europeu. No entanto, o processo é longo e as opiniões podem mudar nos meses anteriores à votação final.
Especula-se que a China pode recuar ou que os eurodeputados sofram pressão de capitais nacionais e de interesses comerciais para aprovar o denominado Acordo Compreensivo de Investimento (CAI, na sigla em inglês) em nome da melhoria do acesso europeu aos abundantes mercados chineses.
Mesmo antes do contra-ataque chinês às sanções na semana passada, o acordo encontrou oposição de eurodeputados por causa da falta de promessas, muito menos de compromissos vinculativos, por parte de Pequim de cumprir as normas internacionais sobre trabalho forçado. Outros estavam preocupados em contrariar o presidente norte-americano, Joe Biden.
Reinhard Butikofer, deputado alemão e líder da delegação do parlamento na China, que foi um dos sancionados por Pequim, disse que o apoio pode diminuir ainda mais quando seus colegas perceberem que isso pode drenar o investimento industrial da Europa.
"O CAI está com problemas extremamente sérios. Mas eu evitaria dizer que acabou. Pode haver tentativas de revivê-lo", disse ao Financial Times.
No entanto, a resposta da China à posição da UE sobre os abusos de Xinjiang ainda parece um ponto de viragem nas relações UE-China.
Pequim viu o acordo de investimento como uma oportunidade para abrir uma divisão entre os EUA e a UE, segundo Butikofer. As sanções ocidentais coordenadas foram uma "grande perda de rosto para Xi Jinping", ele acredita, e explicam por que a China atacou primeiro a UE com contrassanções. Também se seguiu um boicote do consumidor, orquestrado pela mídia estatal, de algumas marcas ocidentais depois das declarações anteriores sobre Xinjiang.
Em um discurso na sede da OTAN na semana passada, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, falou em tom tranquilizador sobre a abordagem de Washington.
"Os Estados Unidos não forçarão nossos aliados a escolherem 'nós ou eles' com a China”, disse ele. "Sabemos que nossos aliados têm relações complexas com a China que nem sempre se alinham perfeitamente. Mas precisamos enfrentar esses desafios juntos", concluiu Blinken.