Entre 2001 e 2006, enquanto chefe da Inteligência das FDI, Ze'evi-Farkash teria debatido com oficiais da Rússia sobre o quanto Israel poderia confiar em Moscou para que o Irã não se tornasse uma nação nuclear, informa o The Jerusalem Post.
Na época, mesmo que Moscou estivesse ajudando Teerã a progredir em vários aspectos nucleares, o Estado russo também não seria muito favorável à existência de armas nucleares na República Islâmica, principalmente por receio do dito radicalismo islâmico proveniente da região, escreve o jornal. Apesar da oposição russa, o ex-chefe da Inteligência das FDI se mostrou cético com relação à eficácia de Moscou sobre o Irã, uma vez que tinha falhado com a China, a Índia, e o Paquistão – todos estes países acabaram obtendo armas nucleares, mesmo com a oposição russa.
Nos dias de hoje, oficialmente, não existe nenhuma comprovação de que Teerã já seja possuidora de armas nucleares. Contudo, o próprio major-general reformado não acredita que a nação persa possa ficar para sempre impedida de obtê-las, mas é favorável a adiar esse dia até não poder mais, segundo a mídia.
De acordo com Ze'evi-Farkash, existe uma grande divisão dentro da República Islâmica entre extremistas e pragmáticos. Os primeiros acusam o presidente iraniano, Hassan Rouhani, de colocar o país em uma má posição sem necessidade, pois se os EUA saíram do acordo, o mesmo deixou de existir. Por outro lado, os cidadãos mais pragmáticos, provavelmente, estariam alinhados à lógica do líder supremo aiatolá Ali Khamenei: "Primeiro, vocês [EUA] nos livram das sanções, e depois disso, voltaremos a cumprir o acordo" em termos de limitações nucleares, citado pelo The Jerusalem Post.
Contudo, o ex-chefe da Inteligência das FDI crê que não será tão simples assim com Teerã. Ele prevê que "o Irã vai querer mais e mais concessões até concordar em se juntar às negociações. […] Apenas Israel poderá ter um impacto na situação", citado na matéria. Agora, se o Estado judeu vai, de fato, ter esse impacto, isso já é outra questão.
Aharon adverte, no entanto, que a situação está ficando cada vez mais perigosa na região. Segundo o major-general reformado, "eles [Irã] produziram urânio metálico parecido com pão pita, o que representa o estágio muito avançado. Eles têm dificultado a condução das inspeções por parte da Agência Internacional de Energia Atômica [AIEA]", citado pela mídia israelense.
Outra situação que preocupa Ze'evi-Farkash é a natureza das relações bilaterais entre o Irã e a China. Atualmente, o gigante asiático apresenta uma imagem mais positiva, principalmente pelo seu desempenho durante a pandemia na fabricação e distribuição de vacinas. Enquanto Pequim fortalecia seus laços diplomáticos, especialmente frutos de sua ajuda com a vacina contra a COVID-19 a países mais necessitados, os EUA se mostravam, aparentemente, bastante ocupados com seus próprios problemas.
A China se mostra forte perante o mundo, e, enquanto o Irã mantiver boas relações com o gigante asiático, o apoio chinês fará com que a República Islâmica também se mantenha forte.
Uma outra característica importante a apontar no Irã é sua paciência estratégica. O Estado iraniano sabe quais são seus objetivos, e tudo fará para os alcançar, mas, para atingir sucesso, vai esperar até o momento certo para agir. A nação persa deverá obter seu poderio nuclear, mesmo que seja só em 2030 ou 2040, ou, quem sabe, depois disso.
O ex-chefe da Inteligência das FDI, contudo, não acredita que um confronto militar entre Israel e Irã resolva seus problemas com a República Islâmica. Porém, não descarta a importância e impactos das operações militares israelenses em determinados pontos-chave da região, como a Síria, por exemplo, onde ambos os Estados têm interesses.
Além disso, Israel tem outros métodos de travar os avanços do Irã, especialmente no campo da cibersegurança onde, contrariamente no mundo real, não existem limites.