Se na Terra as auroras ocorrem apenas em altas latitudes, mas não nos próprios polos, em Júpiter ocorrem também sobre as zonas junto aos polos.
Esta particularidade pode ser explicada pela configuração única do campo magnético do gigante gasoso, opinam os autores do estudo publicado na revista Science Advances.
As auroras são emissões de partículas carregadas que se precipitam na atmosfera a partir do espaço, um processo que está estritamente vinculado à magnetosfera do planeta.
Visto que, na Terra, as linhas magnéticas se abrem nas regiões polares e se interconectam com o campo magnético interplanetário, os elétrons que caem na atmosfera nesta área não possuem suficiente energia para provocar as auroras.
Em Júpiter, as auroras não possuem "áreas escuras", porém sua distribuição tampouco é uniforme. Particularmente, no planeta foi registrado um anel com um brilho mais forte, semelhante ao terrestre. Contudo, a suposição de que Júpiter tenha as linhas magnéticas fechadas não pode explicar o fenômeno.
Recorrendo à simulação computadorizada, os pesquisadores concluíram que a configuração da magnetosfera que melhor se ajusta à situação observada em Júpiter combina linhas magnéticas abertas e fechadas.
"Isso nunca me passou pela cabeça. Acho que ninguém na comunidade poderia ter imaginado esta solução. No entanto, esta simulação pôde fazê-lo. [...] Para mim, esta é uma grande mudança de paradigma na forma como entendemos as magnetosferas", disse em comunicado um dos autores do estudo, Peter Delamere, professor de física espacial no Instituto Geofísico da Universidade do Alasca em Fairbanks.
Nós, como comunidade, tendemos a ter opiniões polarizadas – as linhas magnéticas ou são abertas ou são fechadas - e não podíamos imaginar uma solução em fosse um pouco de ambas", disse Delamere, que vem estudando Júpiter desde 2000. "No entanto, em retrospectiva, era exatamente isso que a aurora nos revelava", adicionou.
Ainda não se conhecem as causas desta configuração da magnetosfera de Júpiter. A descoberta "levanta diversas questões sobre como o vento solar interage com a magnetosfera de Júpiter e influi na sua dinâmica", indica Delamere.