A informação de que a Alemanha iniciou negociações bilaterais com a Rússia para discutir a aquisição de doses da vacina russa Sputnik V contra a COVID-19, caso o imunizante seja aprovado pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês), não agradou os EUA, afirma o tabloide Bild.
De acordo com a mídia, a movimentação irritou Washington, com fontes diplomáticas não identificadas dizendo ao tabloide que a medida poderia ser encarada como uma violação das sanções impostas recentemente contra a Rússia.
Legisladores dos EUA estariam "irritados" com a percepção de um duplo comportamento na política alemã, simultaneamente defendendo a causa do opositor russo Aleksei Navalny, enquanto também contempla a compra da vacina de Moscou.
Negociações Alemanha-Rússia
O Fundo Russo de Investimentos Diretos (RFPI, na sigla em russo) e representantes do governo alemão começaram a estudar a possibilidade de a Alemanha adquirir a vacina russa Sputnik V na semana passada.
As discussões estão ocorrendo apesar da EMA alertar que uma decisão sobre liberar ou não a vacina para uso pelos Estados-membros da União Europeia ainda pode demorar semanas. O ministro da Saúde alemão, Jens Spahn, disse na quinta-feira (8) que "discutiríamos bilateralmente com a Rússia, em primeiro lugar, para saber quando e quais quantidades poderiam ser entregues".
Diversos países europeus já autorizaram o uso da vacina russa, como Hungria, Eslováquia, San Marino, Sérvia, Montenegro e Macedônia do Norte.
Muito além da vacina
O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou anteriormente que a indústria farmacêutica está ativamente fazendo lobby contra o uso do Sputnik V na Europa.
Além disso, a irritação norte-americana não é apenas por causa das vacinas russas. Os EUA não veem com bons olhos o acordo entre Berlim e Moscou para construir um dos maiores gasodutos do mundo, o Nord Stream 2 (Corrente do Norte 2), com conclusão prevista ainda para este ano. O projeto tem sido alvo de sanções de Washington, que afirma que o gasoduto é uma "grave ameaça" à "segurança energética da Europa e à segurança nacional norte-americana".
No entanto, tem há especulações de que a posição dos EUA é impulsionada pelo desejo de vender grandes quantidades de gás de xisto norte-americano ao continente europeu. De acordo com o portal Politico, um refrão comum em Berlim é que "os norte-americanos não se importam com a Rússia, eles só querem nos vender seu gás mineral".