O Brasil ficará de fora da rota dos Estados Unidos em viagem de representantes à América do Sul. Considerado uma liderança regional, por seu território e importância econômica, o país não receberá a visita de autoridades enviadas pelo presidente norte-americano Joe Biden à Colômbia, à Argentina e ao Uruguai para discutir, entre outras questões, as crises climáticas e da pandemia de COVID-19.
Juan Gonzalez, assistente especial de Biden e diretor sênior para o Hemisfério Ocidental da Casa Branca, e Julie Chung, secretária adjunta para o Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado, estarão no continente sul-americano do dia 11 a 15 de abril.
De acordo com a Casa Branca, na Colômbia, os temas serão "a recuperação econômica, a segurança, o desenvolvimento rural, a crise dos migrantes venezuelanos e a liderança climática regional da Colômbia".
Já na Argentina e no Uruguai, o objetivo é discutir "as prioridades regionais, incluindo o enfrentamento dos desafios da crise climática e da pandemia de COVID-19 e as ameaças à democracia, aos direitos humanos e à segurança em nosso hemisfério e em todo o mundo".
Para o cientista político Paulo Velasco, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e pesquisador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), é "um sinal negativo" o Brasil não estar no roteiro da comitiva.
O especialista diz que a situação não é inédita, mas que, desta vez, causará estranheza os Estados Unidos "esnobarem" o Brasil.
"Eles [o novo governo dos EUA] já vêm fazendo críticas sobre a questão ambiental no Brasil. De alguma forma, isso é um recado de que o Brasil terá que assumir uma postura um pouco mais responsável nessa agenda e em outros temas também para contar novamente com um maior prestígio junto aos EUA e à Casa Branca", afirmou Velasco em entrevista à Sputnik Brasil.
O cientista político alerta que o Brasil vem perdendo sua influência na região nos últimos anos. Segundo ele, no momento, a imagem do país no mundo não é boa.
Velasco ressalta que, há alguns anos, o Brasil ocupou uma posição de maior destaque no cenário internacional. Apesar de nunca ter sido um parceiro prioritário para os EUA, o país já teve um papel mais relevante aos olhos norte-americanos.
"Eu diria que, nos anos 2000, durante as presidências de [George] Bush nos EUA e de Lula no Brasil, o país era visto como um ator mais protagonista e merecedor de uma atenção maior", apontou.
Para o especialista, a capacidade do Brasil em articular consensos "parece bem limitada" atualmente. Velasco explica que o governo de Jair Bolsonaro "tem protagonizado diferenças e grandes desencontros com os vizinhos".
Novo chanceler pode ajudar a recuperar a imagem do Brasil
Para o cientista político, o novo ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto Franco França, já deu algumas mostras de que pode contribuir para que o Brasil volte a ser reconhecido internacionalmente.
Ele diz que, embora seja cedo para tirar conclusões definitivas sobre a atuação do novo chanceler, o discurso de posse e o diálogo com países sul-americanos foram bons indicativos.
"O discurso foi moderado, sóbrio, marcado por ponderações bastante relevantes. Ele fez menções à questão ambiental, à necessidade de mais vacinas e às questões mais prementes para o país. A sobriedade talvez seja a grande vantagem do novo chanceler", afirmou Velasco.
Segundo o especialista, o ministro tem trabalhado para reconstruir "pontes queimadas" pelo seu antecessor, Ernesto Araújo, especialmente no diálogo com países sul-americanos.
Ele ressalta ainda a importância da conversa com o ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, na última sexta-feira (9).
Na ocasião, o chanceler brasileiro reconheceu a centralidade da China no cenário mundial e discutiu a cooperação entre os países para aquisição de insumos para a produção de vacinas.
"Apesar de não ter tanta experiência, pois nunca chefiou uma embaixada no exterior, ele tem boa vontade, conhece bem o que é a identidade internacional do Brasil e sabe da necessidade de tratar temas urgentes, como a compra de vacinas", disse.