No início de março, após um navio de proprietário israelense ter sofrido explosão no golfo de Omã, o jornal The Times of Israel escreveu que "Israel poderia mandar uma mensagem ao atacar um navio iraniano no mar Vermelho, tal como o Saviz".
As alegações da Arábia Saudita em como o Saviz serviria como base marítima – e transporte de armamento – do Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica, fizeram em parte com que a embarcação iraniana se tornasse "alvo perfeito".
Porém, ao fazê-lo, o Estado judeu se arrisca a começar confronto no qual suas vulnerabilidades podem se tornar fatais. Por um lado, Israel não dispõe, propriamente, das melhores relações com seus vizinhos no golfo, por outro, não existem garantias de que os EUA auxiliariam. Além disso, se ocorresse um confronto entre Irã e Israel, Washington ficaria em uma posição complicada ante as negociações do acordo nuclear do Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês).
Sobre o navio Saviz
A embarcação iraniana – que já foi chamada Azalea, Velha do Oceano do Irã, Lantana e Vela do Oceano – foi retirada da lista de sanções dos EUA em 16 de janeiro de 2016, quando o acordo nuclear do JCPOA entrou, efetivamente, em execução. No entanto, em abril de 2020, com Donald Trump como presidente americano, a embarcação voltou a constar na lista.
As atenções começaram a ser postas no Saviz em 2017, quando a coalização árabe, liderada pela Arábia Saudita, em luta contra os rebeldes iemenitas houthis, revelou um dossiê com documentos mostrando indivíduos usando uniforme militar em um navio que, supostamente, seria civil. Mas o incômodo de sua presença não parou por aí.
Em novembro de 2018, pescadores da cidade de Taiz, no Iêmen, protestaram contra a embarcação iraniana, classificando-a como uma ameaça à segurança.
No momento, o Saviz encontra-se ancorado em águas internacionais, perto do arquipélago de Dahlak, da Eritreia, uma posição relativamente vulnerável, devido à sua proximidade a Israel – outro motivo pelo qual este navio é o "alvo perfeito". Porém, o mesmo se aplica ao lado oposto, uma vez que o navio iraniano pode monitorar os movimentos das embarcações israelenses.
No domingo (11), um satélite privado de análise fotográfica pertencente à ImageSat International compartilhou uma imagem do Saviz nas redes sociais, mostrando que o mesmo ainda não se moveu desde o ataque à embarcação israelense.
Sobre dissuasão e seus limites
Um ataque hipotético ao Saviz seria o último incidente necessário para o início de um conflito em uma zona cinza entre Israel e o Irã, aponta a mídia israelense.
Conflitos desta natureza tendem a ser complexos, algo que as forças militares da OTAN reconhecem. No entanto, especialistas acreditam que a aproximação da zona cinza é um componente central na estratégia de segurança nacional do Irã. Negar ataques a navios civis se encaixa na ampla e assimétrica estratégia naval iraniana, escreve o jornal.
Yaakov Amidror, ex-assessor de segurança nacional e membro sênior do Instituto de Estudos Estratégicos de Jerusalém, acredita que uma resposta proveniente de Israel no mar Vermelho pode ser possível, por ser "um campo no qual Israel sabe como operar", citado na matéria.
Ao longo dos anos, especialmente durante a guerra na Síria, Israel tem provado para Irã suas capacidades bélicas, sendo que o último passou a agir mais cuidadosamente com o Estado judeu em questões de fronteira e terrestres, no geral. Porém, no que toca ao setor bélico marítimo, Irã sai ganhando, uma vez que tem investido em seus equipamentos militares marítimos (como submarinos) para alcançar hegemonia nos mares da região.
Por esta razão, Israel deverá ponderar cuidadosamente qual será o próximo passo a dar, uma vez que Teerã deteria uma maior vantagem se um confronto marítimo viesse à tona, mesmo que fosse no mar Vermelho.
Questão de equilíbrio de poder
Atualmente, o balanço de poder entre Israel e Irã no mar Vermelho, onde se encontra o Saviz, é mais importante do que nunca para ambas as nações. Enquanto a base naval israelense de Eliat se encontra mais próximo do mar em causa do que a base iraniana, os houthis, alegadamente suportados por Teerã, controlam a linha costeira e ilhas perto do estreito de Bab al-Mandeb.
Israel não pode arriscar colocar soldados em navios civis no golfo Pérsico, pois há a chance de serem capturados por forças iranianas.
Assim, desta maneira, a melhor alternativa para o Estado judeu seria buscar garantias de segurança para seus navios tanto nos EUA como em Estados do golfo Pérsico – através de processos de normalizações de relações iniciados no ano passado.
No início deste ano, o Pentágono decidiu incluir Israel no seu Comando Central, conferindo ao Estado judeu maior facilidade em trabalhar de perto com a 5ª Frota dos EUA e seus parceiros árabes do golfo Pérsico.