Takeshi Hamada, professor de economia da Universidade de Hokkai-Gakuen, no Japão, e membro do Conselho Regional de Recuperação da Pesca da Prefeitura de Fukushima, admite, em entrevista a Sputnik Japão, o caráter complexo do problema.
Problema de segurança ou de comunicação?
Por um lado, o especialista acredita que o despejo da água da usina não representa realmente uma ameaça.
Ele aponta que "a água que contém trítio, sendo diluída até os parâmetros necessários, é despejada por todas as usinas nucleares que funcionam normalmente. A experiência nos mostra que isso deve ser bem seguro, no entanto, o público geral não sabia inicialmente disso".
Ao mesmo tempo, explica o especialista, desta vez a água é muito contaminada, já que após o acidente na Fukushima destroços do combustível radioativo entraram na água subterrânea que se misturou com água de resfriamento contendo trítio. Porém, o professor assegura que a empresa ALPS tratou essa água com alta concentração de contaminação radiativa.
"Suponho que, durante o tratamento, a água destinada para despejo foi diluída até a concentração necessária e corresponde às normas de segurança, portanto, do ponto de vista científico, não devem surgir nenhuns problemas", declarou o economista.
Por outro lado, o professor nota que as preocupações quanto à descarga de água contaminada surgiram devido à insuficiente conscientização da população sobre o acontecido por parte das pessoas que tomam decisões.
"A opinião pública soube pela primeira vez do despejo da água com trítio através da mídia, que citava opiniões e especialistas que veem uma ameaça ecológica na descarga de água com trítio. Em tais condições, é difícil convencer as pessoas sobre a segurança de tal procedimento. Tais sentimentos na opinião pública não levam a nada de bom."
Problema principal é ausência de explicações claras
O professor Hamada considera que o comportamento das autoridades resultou no surgimento de rumores de que o peixe no mar local é perigoso e, com base nestes rumores, os compradores deixam de comprar o produto.
"Os distribuidores, supondo que os compradores pensam dessa maneira, continuarão evitando a compra de peixe potencialmente perigoso, preferindo o peixe pescado em regiões seguras. Em resultado, os rumores sobre o perigo do peixe local se fortaleceram ainda mais, e o comércio de peixe em Fukushima ainda não se recuperou", detalhou o especialista.
Sendo assim, o professor considera que "o mais importante para resolução do problema do despejo de água com trítio é explicar às pessoas que este procedimento é absolutamente necessário a fim de continuar os trabalhos de reciclagem dos reatores danificados".
Ainda assim, o especialista aponta que ainda não é certo quem seja responsável por tal situação – a Companhia de Energia Elétrica de Tóquio ou o governo, que promoveu o desenvolvimento da energia nuclear, mas não conseguiu controlar isso. De qualquer maneira, foram os pescadores quem acabou sofrendo mais que os outros.
"Quanto mais o governo declara sua proximidade com os pescadores e fala dos danos à reputação provocados pelos rumores, mais surge a impressão de que os funcionários criticam os consumidores de não comprarem o peixe. Ou seja, o governo critica os cidadãos comuns, com isso afastando ainda mais os pescadores do povo. Entretanto os pescadores são obrigados a protestar contra o despejo da água contendo trítio, uma vez que no final serão eles novamente os culpados ", concluiu.