A eleição de Joe Biden começa a não ser um evento tão recente, e com o passar do tempo, as abordagens que o presidente e sua administração escolhem para traçar sua política interna e externa vão se tornando cada vez mais claras.
Sob nova gestão, os EUA vêm abandonando diversas diretrizes desenvolvidas pelo governo antecessor de Donald Trump. Porém, em relação a um país específico, as duas chefias parecem concordar: a China.
Na semana passada, o governo Biden acrescentou sete empresas de supercomputação chinesas à lista de entidades para as quais as empresas norte-americanas não podem vender sem permissão especial. A medida, foi uma expansão da repressão que começou sob Trump, com restrições às exportações para empresas chinesas como a Huawei.
Isso pode sinalizar uma continuidade mais ampla da postura dos EUA em relação ao país asiático, seu maior rival econômico. A equipe do novo presidente ainda está revisando as políticas para Pequim que herdou de Trump, mas já indicou que sua estratégia será amplamente semelhante, segundo a Bloomberg.
Os novos freios norte-americanos vão além da expansão dessa lista. Em março, o Departamento de Comércio informou a alguns fornecedores da Huawei que estava apertando as condições das licenças de exportação aprovadas anteriormente, proibindo itens para uso em ou com dispositivos 5G.
Talvez a medida aconteça para desarmar a China na próxima competição entre os dois países sobre a tecnologia 6G. O primeiro país ou companhia a desenvolver e patentear a rede 6G será o vencedor do que muitos caracterizam como a próxima revolução industrial.
O departamento também disse que seguirá em frente com uma proposta da era Trump que permite bloquear transações envolvendo "adversários estrangeiros" e emitiu intimações para vários provedores de tecnologia da informação e comunicações chineses como parte de uma revisão da segurança nacional potencial de riscos, de acordo com a mídia.
Na quarta-feira (14), foi anunciado que o governo norte-americano pretende investir US$ 50 bilhões (cerca de R$ 284 bilhões) em financiamento para produção e pesquisa de semicondutores, e assim, resolver o problema da escassez global e rivalizar no mercado com Pequim.
Entretanto, não só no campo da tecnologia o governo dos EUA lança medidas para conter o desenvolvimento chinês. No que diz respeito a ações no campo da economia, o anúncio feito no final de março sobre o orçamento de US$ 2,25 trilhões (cerca de R$ 12,68 trilhões) para renovação da infraestrutura estadunidense deixou isso claro. Segundo Biden, o plano tornaria o país mais competitivo e colocaria os EUA "em posição de ganhar a competição global com a China nos próximos anos".
Além do novo projeto de infraestrutura, o governo norte-americano estaria fiscalizando de perto os planos chineses sobre o lançamento de yuan digital, uma vez que seu desenvolvimento poderia ameaçar o domínio do dólar como principal moeda mundial.
Todas essas ações vão de encontro à promessa de Biden, quando jurou, no final de março em entrevista coletiva, que impediria a China de se tornar a futura potência mundial, ao trabalhar nas relações com seus aliados e aumentar o investimento norte-americano no setor da tecnologia. "A China tem um objetivo geral [...] de ser o país líder do mundo, o mais rico e o mais poderoso. Isso não acontecerá enquanto eu estiver aqui, porque os EUA vão continuar crescendo e se expandindo", disse Biden na ocasião.
A escalada de competição entre os dois países ficou bem clara na reunião entre as duas nações em março no Alasca, com ambos os lados fazendo duras críticas às políticas um do outro, em uma rara exibição pública que resultou em tensão bilateral.
Porém, sobre a política adotada pelos EUA em relação à China, a impressão é de que novos jogadores sentaram na mesa, mas as táticas do jogo permanecem as mesmas.