O único imunizante de apenas uma dose aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) até o momento é o da Johnson & Johnson, mas a vacina ainda nem chegou ao Brasil. Apesar disso, muitos brasileiros que tomaram a primeira injeção estão deixando de comparecer ao posto de saúde novamente para receber a segunda dose contra a COVID-19.
O Ministério da Saúde anunciou, na última terça-feira (13), que 1,5 milhão de pessoas estão nesta situação, o que coloca em risco a eficácia do próprio processo de vacinação.
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) recomendou que sete municípios encontrem as pessoas que deixaram de tomar a segunda dose para conscientizá-las da necessidade da segunda aplicação. As cidades envolvidas neste caso são São Gonçalo, Niterói, Maricá, Rio Bonito, Silva Jardim, Tanguá e Itaboraí.
Do total de pessoas do país que já deveriam ter tomado a segunda injeção, 143.015 seriam moradores do estado do Rio de Janeiro.
O Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) informou, nesta quinta-feira (15), que o número real divulgado pelo ministério é menor, porque muitos municípios estariam atrasando a inserção de dados no sistema do governo federal.
Ainda assim, a situação já preocupa autoridades de Saúde do país.
Segundo o médico Alexandre Chieppe, sanitarista da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, tomar apenas uma dose, além de não promover a proteção necessária contra a doença, ocasionará o desperdício da primeira vacina aplicada.
"Uma vez que a pessoa retome a vacinação, vai precisar novamente das duas doses caso passe muito do tempo que deveria tomar a segunda dose", explicou o especialista em entrevista à Sputnik Brasil.
Chieppe ressalta que o país enfrenta um grande desafio de imunizar a população para "garantir uma relativa volta à normalidade".
As duas vacinas únicas que estão sendo utilizadas no Brasil atualmente possuem intervalos distintos de aplicação entre as doses.
Enquanto a segunda dose da CoronaVac deve ser aplicada em até 28 dias, o imunizante da Oxford/AstraZeneca precisa de um intervalo de três meses entre as injeções.
"É fundamental tanto para otimizar os recursos necessários, como para garantir a saúde das pessoas e a imunidade contra o novo coronavírus, que todas aquelas pessoas se atentem para a necessidade de tomar as duas doses da vacina", alertou o sanitarista.
Falsa sensação de segurança
A CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan e desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, tem uma eficácia geral de 50,38%. Contra graves, a taxa sobe para 100%.
Já a vacina da Oxford/AstraZeneca, produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com a Universidade de Oxford, possui eficácia de 82,4% após a aplicação das duas doses. O imunizante também previne em 100% contra casos graves.
Mas estes números valem apenas para aqueles que tomarem as duas doses.
"Só assim há uma ativação suficiente do nosso sistema imunológico para produzir as defesas necessárias, e não somente contra a infecção, mas principalmente nos protegendo contra as formas graves da COVID-19", afirmou Chieppe.
O especialista explica que a principal razão para, eventualmente, as pessoas não tomarem a segunda dose é a falsa sensação de que estariam protegidas com a primeira.
"É um erro. As pessoas precisam se conscientizar de que a não aplicação da segunda dose ou implica em uma proteção inadequada ou a necessidade de repetir e reiniciar todo o esquema de vacinação. É um apelo para que as pessoas se sensibilizem sobre a necessidade de voltar ao posto de vacinação em que recebeu a primeira dose e fique protegido contra a infecção", disse o sanitarista da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro.
O especialista ainda pede que, mesmo após as duas doses, as pessoas mantenham as medidas de precaução, com uso de máscara e distanciamento social, durante esta fase aguda da doença, com o número de novos casos e mortes em alta.
"O fato de a gente estar vacinado, mesmo com as duas doses, não nos impede completamente de adquirir a infecção por coronavírus. Protege, em grande medida de casos graves, mas o vírus continua circulando. Para não ser um vetor desse vírus, as medidas de precaução precisam ser mantidas até que o processo de vacinação avance muito no Brasil, o que deve acontecer certamente no segundo semestre", afirmou.