O presidente dos EUA, Joe Biden, e o primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, vão apresentar um projeto de frente unida em Taiwan na reunião de cúpula desta sexta-feira (16), de acordo com um funcionário de alto escalão do governo dos EUA ouvido pela agência Reuters.
A China considera Taiwan uma província independentista que deve ser reunificada com o continente, e as autoridades chinesas frequentemente protestam fortemente se alguém sugerir o contrário. Ainda assim, Biden e Suga devem chegar a um acordo sobre uma declaração conjunta na ilha, no primeiro encontro pessoal do presidente democrata com um líder estrangeiro.
Biden e Suga também discutirão o tratamento dado por Pequim aos muçulmanos na região de Xinjiang e sua influência sobre Hong Kong, enquanto anunciam um investimento japonês de US$ 2 bilhões (aproximadamente R$ 11,2 bilhões) em projetos de telecomunicações 5G em conjunto com os EUA para combater a empresa chinesa Huawei.
"Vocês viram uma série de declarações dos EUA e do Japão sobre as circunstâncias através do estreito em Taiwan, sobre nosso desejo de manter a paz e estabilidade, sobre a preservação do status quo, e espero que vocês verão tanto uma declaração formal quanto consultas sobre esses assuntos", disse o alto funcionário do governo norte-americano.
Aumentar pressão sobre China
A última vez que os líderes norte-americanos e japoneses se referiram a Taiwan em uma declaração conjunta foi em 1969, quando o premiê japonês afirmou que a manutenção da paz e da segurança na "área de Taiwan" era importante para sua própria segurança. Isso foi antes de Tóquio normalizar os laços com Pequim.
A medida agora visa aumentar a pressão sobre a China. No entanto, tal declaração parece provavelmente ficar aquém do que os EUA esperavam ver de Suga, que herdou uma política que buscava equilibrar as preocupações de segurança com laços econômicos profundos com a China quando assumiu o cargo de primeiro-ministro em setembro, afirma a mídia.
Em uma declaração após uma reunião de março dos ministros da Defesa e das Relações Exteriores dos EUA e do Japão, os dois lados "ressaltaram a importância da paz e da estabilidade no estreito de Taiwan" e compartilharam "sérias preocupações" sobre os direitos humanos em Hong Kong e Xinjiang.
Com sua primeira cúpula presencial com Suga e outra planejada com o líder da Coreia do Sul em maio, Biden está trabalhando para concentrar os recursos militares e diplomáticos dos EUA no Indo-Pacífico e administrar o crescente poder global da China, que Biden vê como uma questão crítica de política externa da época.
A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, disse aos emissários que visitaram a ilha a pedido de Biden na quinta-feira (15) que Taipé trabalharia com os EUA para impedir ameaças de atividades militares chinesas.
Tensão Tóquio-Seul
Biden espera energizar os esforços do Diálogo de Segurança Quadrilateral (Quad, na sigla em inglês), que conta com a participação dos EUA, Japão, Austrália e Índia e que visa, entre outras coisas, combater a expansão chinesa no Indo-Pacífico. Biden e Suga devem anunciar planos para a próxima reunião do Quad nesta sexta-feira (16).
Embora a Coreia do Sul tenha recusado aderir ao grupo Quad recentemente, os EUA esperam contar em breve com a participação desse aliado e, de acordo com o funcionário do governo dos EUA ouvido pela Reuters, apresentar uma frente unida exigirá um ato de equilíbrio delicado, dados os laços econômicos do Japão e da Coreia do Sul com a China e as relações frias entre Seul e Tóquio.
"É preocupante para nós, ao ponto de ser doloroso, ver as relações entre o Japão e a Coreia do Sul cair para o nível atual […]. As tensões políticas são tais que acreditamos que realmente impedem todas as nossas habilidades de sermos eficazes no nordeste da Ásia, e acho que o presidente [Biden] vai querer discutir isso em detalhes com o primeiro-ministro Suga", lamentou a fonte à mídia.
As relações entre Tóquio e Seul se desgastaram por questões relacionadas à colonização da Coreia pelo Japão na primeira metade do século XX, incluindo a das mulheres sul-coreanas, que foram forçadas a trabalhar em bordéis japoneses durante a Segunda Guerra Mundial.