Nesta quinta-feira (15), o presidente do Banco Central do Brasil (BCB), Roberto Campos Neto, apresentou, durante um evento da Abfintechs, uma projeção feita pela autoridade monetária que aponta que o nível de proteção em relação a óbitos após a aplicação da segunda dose da vacina contra a COVID-19 chega a 90%.
Na projeção, o BCB considerou as doses de vacina contratadas e garantidas pelo Ministério da Saúde, e o cronograma de vacinação, em termos de grupos vulneráveis e faixa etária. Assim, desenhou duas curvas de proteção contra mortes causadas pela COVID-19, considerando o número de doses aplicadas e comparando com um cenário sem vacinação.
"A primeira dose você tem uma curva que chega a 80% [de proteção], dependendo do tempo, e a segunda chega perto de 90% [de proteção]", declarou Campos Neto, citado pela agência O Globo.
Com esse exercício, o Banco Central conseguiu estimar uma data para a reabertura da economia, levando em conta que o processo de vacinação no país começou a acelerar.
"O que esse gráfico nos permite dizer, obviamente ainda com um grau de incerteza, é que no segundo semestre a gente vai estar em uma situação de reabertura da economia", disse Campos Neto, que acrescentou que a vacinação contra a COVID-19 é a "variável mais importante no curto prazo para determinar a reabertura da economia".
"Nós temos o exemplo da Dinamarca, que, com a aceleração dos planos de vacinação, já está emitindo o chamado passaporte COVID-19, que permite a circulação das pessoas já imunizadas. [...] Temos o exemplo da Austrália também, que já tem um plano de vacinação bem avançado [...], com um relaxamento das medidas restritivas, e aí a gente observa a atividade econômica retomando", afirma.
No entanto, o consultor da empresa Massem Investimentos indica que o avanço da campanha de vacinação não é suficiente para se determinar a retomada da economia no Brasil. Na opinião do economista, o programa de imunização precisa estar aliado a outras questões-chave da economia brasileira, como as reformas estruturantes e as discussões em torno do orçamento e da política fiscal do governo, com especial atenção para o teto de gastos.
"Temos uma agenda reformista que perdeu muita força no ano passado com o coronavírus, e que, neste ano, ainda a gente continua num impasse muito grande. O Brasil necessita fazer as reformas estruturantes, principalmente as reformas tributária e administrativa, que é o que vai dar sustentabilidade ao país no longo prazo, visto a preocupação que se tem com os gastos públicos", destaca Bertotti.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) fez recomendações ao Brasil nesta quarta-feira (7) salientando que o país deve manter o apoio à economia durante a pandemia de COVID-19, mas sem desrespeitar o teto de gastoshttps://t.co/WYdkAJE2Rt
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Sobre as projeções relativas ao Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que indicam um crescimento de entre 3% e 3,5% para 2021, Bertotti afirma que elas não estão acontecendo neste momento pela situação crítica da pandemia no país, "com lockdowns em diferentes estados", o que já estaria afetando alguns dados da indústria, e com a possibilidade de as medidas restritivas se estenderem para o segundo semestre.
Além disso, o economista ressalta que as projeções vêm sofrendo mudanças quase que semanais e que há outras questões na economia brasileira que podem influenciar a retomada, como a desconfiança gerada pelo que o mercado considera intervenções de Jair Bolsonaro no comando de estatais importantes, como Petrobras e Banco do Brasil, além de um cenário com inflação crescente, desestruturação da cadeia de oferta e elevação das taxas de juros.
Os indicadores compostos avançados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para o mês de março mostram que o Brasil é a única grande economia mundial que aparece com desaceleraçãohttps://t.co/94cpeN9ldB
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Contudo, Bertotti acredita que é possível chegar a um PIB positivo no segundo semestre, mas que será preciso uma combinação de fatores para tornar isso realidade.
"Eu acho que nós temos sim uma possibilidade de um PIB positivo, mas isso vai depender do processo de vacinação e também das pautas do governo em relação à questão fiscal", conclui.