A Coalizão Brasil Clima, Floresta e Agricultura, que reúne pesquisadores, empresas e setores do agronegócio, enviou uma carta ao governo brasileiro fazendo um apelo para que o país assuma compromissos de ter maior ambição climática durante a Cúpula dos Líderes sobre o Clima.
O secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, disse à Sputnik Brasil que a participação do Brasil nas políticas ambientais e negociações sobre o clima são muito importantes, pois a pauta climática é cada vez mais central e exerce grande influência nas decisões políticas e econômicas atualmente.
De acordo com ele, se o Brasil seguir o curso da política ambiental que vem sendo adotado pelo governo Bolsonaro, o país vai perder a oportunidade de obter vantagens em negociações e prejudicar sua imagem no cenário internacional.
"Ou o Brasil vai se interessar pelo tema [ambiental], aproveitando isso como uma oportunidade de tirar vantagem de ser um ator importante e positivo na agenda de clima; ou vai acontecer o que acontece agora com o governo Bolsonaro, o Brasil vai se negar a assumir compromissos, se negar a fazer uma agenda positiva em meio ambiente e vai sofrer problemas de imagem, problemas que vão arranhar a capacidade comercial do Brasil de fazer negócios mundo afora", afirmou.
Para Marcio Astrini, o Brasil tinha tudo para ser protagonista na pauta ambiental, mas afirmou que a expectativa da participação brasileira na cúpula "infelizmente não é nada boa". Segundo ele, com o governo Bolsonaro o Brasil "vem passando vergonha, acumulando problemas de desgaste da imagem do Brasil".
"Para o discurso que o presidente vai fazer, a gente espera as mesmas mentiras de sempre. Ele vai dizer que faz esforços para a questão do clima, que é uma agenda importante e que preserva o meio ambiente, mas isso não passa de enganação. Todas as medidas que o governo tomou desde janeiro de 2019 só foram no sentido de diminuir a proteção do meio ambiente no Brasil", frisou Astrini.
"É um governo que inclusive nega as mudanças climáticas. O próprio presidente da República, o ex-ministro das Relações Exteriores, por várias vezes falaram que as mudanças climáticas e o movimento de defesa do meio ambiente não passavam de conspirações internacionais, então independente do que ele [Bolsonaro] vai falar, e normalmente são mentiras, aqui dentro de casa, no Brasil, o governo tem uma agenda contra o clima e contra o meio ambiente", acrescentou o diretor do Observatório do Clima.
Ao comentar quais seriam as ações que o governo brasileiro poderia adotar para assumir certo protagonismo internacional na pauta ambiental, Marcio Astrini disse que o primeiro passo seria "mudar radicalmente as ações em relação ao meio ambiente aqui no Brasil".
"Essas mudanças incluiriam, por exemplo, retomar o plano de combate ao desmatamento na Amazônia, um plano muito importante que entre os anos 2004 e 2012 foi essencial para diminuir o desmatamento na Amazônia em mais de 80%", afirmou.
Ele também citou a importância de retirar da pauta do Congresso as diversas propostas encaminhadas pelo próprio governo que estimulam desmatamento como, por exemplo, projetos de lei que beneficiam os grileiros de terra, e a proposta do governo de abrir terras indígenas para o agronegócio, mineração e outras atividades comerciais.
Promessas de Bolsonaro a Biden
Durante a Cúpula de Líderes sobre o Clima, muitas das atenções estarão voltadas para a relação entre o presidente Jair Bolsonaro e a administração norte-americana de Joe Biden, que organiza o evento e tem a pauta ambiental como um dos principais focos de sua agenda.
Na última quinta-feira (15), o presidente Jair Bolsonaro enviou uma carta ao presidente norte-americano se comprometendo a zerar o desmatamento ilegal no Brasil até 2030. Bolsonaro aproveitou para pedir apoio aos Estados Unidos para alcançar o objetivo.
O secretário-executivo do Observatório do Clima afirmou que os compromissos estabelecidos pelo governo na carta aos EUA também "são mentirosos". De acordo com Marcio Astrini, a meta de zerar o desmatamento ilegal até 2030 foi apresentada pela primeira vez no Brasil em 2015, quando o Brasil fez sua submissão para a ONU das promessas climáticas.
"Ele [Bolsonaro] está enviando para o governo Biden uma promessa de desmatamento ilegal zero para 2030 que ele mesmo retirou das promessas do Brasil que foram entregues para a ONU. A outra promessa do governo é abrir escuta de diálogo com a sociedade civil, que também é uma outra mentira. Na verdade, esse governo extinguiu todos os conselhos que tinham no governo federal onde tinha participação da sociedade civil", argumentou.
"Quando a gente pensa na ação prática do governo Bolsonaro, a gente vê que estamos muito distantes desse tipo de ação. O governo faz tudo ao contrário, por isso que em dois anos de governo Bolsonaro nós tivemos dois anos de aumento do desmatamento, dois anos de aumento de queimadas na Amazônia e no Pantanal, dois anos de aumento de emissões, aumento nas invasões de terras públicas. É tudo o contrário do que a gente deveria ter e o governo faz tudo ao contrário do que deveria fazer", completou.