O vice-presidente Hamilton Mourão, que também é presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal, foi excluído das negociações sobre a participação brasileira na Cúpula dos Líderes sobre o Clima, organizada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Mourão não foi convocado para as conversas feitas em nome do governo Bolsonaro com os EUA e outros países europeus para falar sobre financiamento para combater o desmatamento na Amazônia.
Ao mesmo tempo, na segunda-feira (19), o vice-presidente declarou que o Brasil "não tem que ser mendigo" ao tentar atrair recursos estrangeiros para combater o desmatamento ilegal das florestas.
Para o cientista político Guilherme Carvalhido, professor da Universidade Veiga de Almeida (UVA), o fato de Bolsonaro estar sendo pressionado internacionalmente para diminuir o desmatamento na Amazônia fez com que o presidente brasileiro passasse a defender o financiamento estrangeiro para auxiliar o Brasil nesta tarefa.
"Nesse aspecto, do ponto de vista de onde vem o dinheiro para o combate ao desmatamento no Brasil, há sim uma racha entre Bolsonaro e Mourão", afirmou.
A pressão exercida sobre Bolsonaro vem de vários países, mas se intensificou após Joe Biden tomar posse. Na semana passada, por exemplo, o embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman, disse que a Cúpula de Líderes sobre o Clima seria a última chance do Brasil mostrar que se preocupa com o desmatamento na Amazônia.
Em seu discurso, o presidente Jair Bolsonaro prometeu reduzir em "quase 50%" as emissões de gases estufa até 2030, estabelecendo também nova previsão para zerar as emissões até 2050https://t.co/Bv2g0eHleU
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Chapman ainda foi firme e comentou que o meio ambiente vai nortear as relações entre o Brasil e os EUA, e que acordos comerciais entre os dois países e a entrada do Brasil na OCDE, por exemplo, vão depender da resposta que o governo Bolsonaro apresentaria na cúpula.
"Mourão tem uma posição mais nacional, onde é necessário haver um fundo amazônico onde o próprio país cria esse recurso e combata o desmatamento. Ou seja, é uma questão de recebimento ou não de capital externo para isso", disse.
Já Bolsonaro, segundo Carvalhido, em tese defenderia também um fundo brasileiro para combater o desmatamento ilegal na Amazônia, mas pela pressão que enfrenta acabou cedendo aos recursos estrangeiros.
"Se Bolsonaro não estivesse pressionado ele estaria trabalhando em prol do não recebimento desse capital e das ações internas para isso. Mas, como ele está precisando tomar decisões rápidas, ele acaba adotando uma política de pedido de dinheiro. E aí levou o Mourão a chamar de mendigagem", declarou.
Especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil têm opiniões diferentes sobre a capacidade do Brasil em atingir a meta anunciada por Bolsonaro de zerar o desmatamento até 2030 e de apresentar o cronograma solicitado pelos Estados Unidoshttps://t.co/oLea3lz23F
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Nesta quinta-feira (22), durante o discurso na cúpula, Bolsonaro prometeu adotar medidas que reduzam as emissões de gases e pediu "justa remuneração" por "serviços ambientais" prestados pelos biomas brasileiros ao planeta.
'Provável que Mourão não esteja na chapa de Bolsonaro em 2022'
Guilherme Carvalhido diz que Bolsonaro e Mourão já possuem diferenças entre si desde 2019 e que possivelmente Mourão não esteja na chapa de Bolsonaro que vai concorrer à reeleição em 2022.
"É muito provável que Mourão não encabece a provável chapa de Bolsonaro como candidato à reeleição em 2022. Bolsonaro já vem discutindo a posição de outra pessoa para ser o seu vice. O que mostra que essas divergências estão colocadas", afirmou.
Segundo Carvalhido, Bolsonaro está sentindo a necessidade de construir "um acordo com setores mais amplos da sociedade" e que, por isso, estaria querendo uma pessoa com um perfil diferente para compor sua chapa.
"Bolsonaro está muito mais ligado hoje ao gerenciamento do poder, ele sabe que a negociação para ganhar uma eleição é muito mais complexa do que simplesmente ter um acordo com um grupo importante. Os militares são um grupo importante do Brasil, mas não são um grupo majoritário. Há outros acordos para se ganhar uma eleição muito maiores do que a posição de Mourão", completou.