China reprime grandes empresas de tecnologia para ter acesso a bancos de dados, diz Bloomberg

© AP Photo / Mark SchiefelbeinVisitantes usam seus smartphones em frente a uma tela que mostra usuários de telefones celulares na China. O setor de telefonia é um dos que mais sofre com a falta de semicondutores (foto de arquivo)
Visitantes usam seus smartphones em frente a uma tela que mostra usuários de telefones celulares na China. O setor de telefonia é um dos que mais sofre com a falta de semicondutores (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 23.04.2021
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Em um movimento de repressão, Pequim mira gigantes tecnológicas para obter seu banco de dados. Porém, mesmo com a represária do governo, analistas dizem que o poder ainda está na mão das megafirmas.

Enquanto a China visa seus gigantes da tecnologia como as megafirmas Alibaba e Tecent, a grande questão agora é como Pequim as fará compartilhar seus dados como parte de um plano abrangente para transformar a segunda maior economia do mundo.

Essas empresas, assim como as norte-americanas Alphabet e Facebook, por exemplo, atuam de forma semelhante: aproveitando os dados do usuário para refinar uma gama crescente de serviços digitais. Sendo assim, esses dados oferecem a essas empresas uma enorme riqueza e poder sobre as informações pessoais e públicas de seus usuários.

Com isso, legisladores dos EUA começaram a pedir uma legislação para desmembrar essas empresas, porém, até agora, esses esforços não conseguiram ganhar muita força. A China, por outro lado, está indo mais longe do que qualquer outro país para controlar seus gigantes da tecnologia.

O presidente, Xi Jinping, declarou no mês passado sua intenção de perseguir empresas de "plataforma" que acumulam dados para criar monopólios e engolir concorrentes menores. Os reguladores da China aplicaram uma multa recorde de US$ 2,8 bilhões (cerca de R$ 15,3 bilhões) à Alibaba por abuso de domínio de mercado e deu a dezenas de outras empresas importantes da Internet um mês para retificar práticas anticompetitivas, segundo a Bloomberg.

Embora parte da motivação seja política, um aspecto potencialmente mais importante é a tentativa da China de criar um mercado para dados que libere seu valor e impulsione o crescimento.

"Esta não é uma iniciativa de curto prazo, é um enfoque nacional completo nos dados de usuários como um impulsionador econômico" disse Kendra Schaefer, chefe de pesquisa digital da Trivium China, uma consultoria em Pequim, citada pela mídia.

E está aí o grande desafio da China: como conseguir que essas mesmas empresas multadas e pressionadas liberem seus dados para o governo?

Alguns analistas acreditam que a melhor forma seria a mais direta, ou seja, apreender seus dados imediatamente. Outros acreditam que isso seria impossível, pois o tiro na nacionalização de dados pode rapidamente sair pela culatra, sufocando a inovação em um momento em que o país asiático precisa de avanços tecnológicos.

Uma outra alternativa, seria os intercâmbios de dados entre diferentes províncias e entidades, como foi recentemente lançado em Pequim, que visa permitir que as empresas negociem dados proprietários anônimos, porém, até agora, além de ser uma iniciativa cara, sua recepção foi morna.

"Os dados na China são muito fragmentados e carecem de padrões comuns, o que os torna difíceis e caros de explorar", disse Camille Boullenois, consultora da Sinolytics citada pela mídia.

O governo chinês também está desenvolvendo um yuan digital que competirá com o Alipay do Ant Group e o WeChat Pay da Tencent, que juntos respondem por quase todo o mercado de pagamentos móveis, permitindo que o Banco Popular da China reúna enormes quantidades de dados sobre as transações.

Ainda assim, as autoridades chinesas enfatizaram que não forçarão as empresas a entregar dados por enquanto, segundo a declaração de Hu Jianhua, vice-diretor da Administração Provincial de Desenvolvimento de Big Data de Guizhou, província chinesa no sudoeste da China.

"Com relação ao uso, desenvolvimento e comércio de dados, ainda estamos explorando os mecanismos. Para as empresas, eles têm a propriedade dos dados. Nós os encorajamos a abrir seus dados, mas não os forçamos a fazê-lo" disse Hu.

Uma possível solução seria o governo se tornar coinvestidor das empresas, pois só assim teria, de fato, acesso a esses dados privados.

Para Angela Zhang, autora do livro Excepcionalismo Antitruste Chinês, a privacidade de dados é o "maior obstáculo" que o governo enfrenta para lidar com os gigantes da tecnologia: "Há uma tensão inerente entre a proteção da privacidade do consumidor e a promoção da concorrência entre diferentes plataformas", disse Zhang.

As reações das megafirmas de tecnologia mostram que elas estão assustadas para se alinharem às políticas governamentais, de acordo com Dev Lewis, um pesquisador do Digital Asia Hub em Xangai. E só a decisão das mesmas poderia dar total acesso ao governo chinês para utilização desses dados para transformar a economia.

"O ônus agora está firmemente sobre as plataformas, se eles quiserem restabelecer isso. Eles que vão tomar a iniciativa em relação aos dados", disse Lewis.

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