Uma equipe internacional de pesquisadores descobriu que compostos naturais que fazem parte das hemoproteínas (biliverdina e bilirrubina) suprimem a ligação de anticorpos à proteína S do coronavírus, segundo estudo publicado na revista Science Advances.
Primeiramente, biólogos do Instituto Francis Crick, envolvidos no desenvolvimento de testes de anticorpos, descobriram que a proteína S do vírus SARS-CoV-2 se liga fortemente à biliverdina, uma substância que dá a essas proteínas uma cor verde incomum.
Usando soros de sangue de pessoas que já tinham sido infetados pela COVID-19, os pesquisadores descobriram que a biliverdina suprime em 30% a 50% a ligação dos anticorpos humanos à proteína de espícula, tornando-os ineficazes para a neutralização do vírus, o que foi uma surpresa para os cientistas.
Os autores estudaram detalhadamente as interações entre a proteína S, os anticorpos e a biliverdina, usando crio-microscopia eletrônica e cristalografia de raios X, para descobrir o mecanismo molecular em funcionamento.
Os cientistas descobriram que a biliverdina se liga ao domínio N-terminal da espícula e o estabiliza de modo que o espinho não pode se abrir. Isso significa que alguns anticorpos não conseguirão acessar seus sítios-alvo, se ligar ao vírus e o neutralizar.
Além disso, foi descoberto que os níveis de biliverdina e de outro composto com o mesmo efeito, a bilirrubina, no sangue e nos tecidos aumentam à medida que se forma a resposta imunológica à infecção pelo vírus SARS-CoV-2.
"E quanto mais dessas moléculas há, mais oportunidades o vírus tem para se esconder dos anticorpos. Este é realmente um processo surpreendente, porque o vírus se beneficia de um efeito colateral dos danos que já causou", disse Annachiara Rosa, primeira autora do estudo.