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Flexibilização do Mercosul: Brasil ganharia de um lado, mas perderia de outro, afirma especialista

© Foto / Marcos Corrêa/Divulgação/Palácio do PlanaltoO presidente Jair Bolsonaro participa de cúpula do Mercosul ao lado do ministro da Economia, Paulo Guedes.
O presidente Jair Bolsonaro participa de cúpula do Mercosul ao lado do ministro da Economia, Paulo Guedes. - Sputnik Brasil, 1920, 27.04.2021
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Flexibilização do Mercosul traria a possibilidade de o Brasil fazer acordos econômicos bilaterais com outros países sem precisar do aval do bloco, mas o país perderia hegemonia no continente, segundo avaliação de uma especialista ouvida pela Sputnik Brasil.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu na última sexta-feira (23) que o Brasil deveria poder fazer acordos comerciais sem precisar da autorização de países-membros do Mercosul.

O ministro destacou a importância da união dos países sul-americanos em acordos com blocos econômicos de outras regiões, mas disse que o Brasil quer "conversar sozinho" com o Canadá, Coreia do Sul, Japão e outros países.

Para Regiane Bressan, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), especialista em assuntos que envolvem países do Mercosul, a proposta de Guedes poderia trazer pontos positivos, mas também possui lados negativos.

"O Brasil poderia ganhar de um lado, em relação a esses acordos, poderia fazer acordos em pares, como ele já tentou fazer junto ao Uruguai. No entanto, o Brasil perderia com a concorrência que aconteceria em relação aos demais países do bloco. Por exemplo, o Chile poderia ganhar mais mercado na Argentina já que o Brasil, com o Mercosul, ainda possui uma preponderância, uma primazia em relação ao comércio argentino", explicou.

Paulo Guedes participou de uma sessão remota realizada pelo Senado Federal para debater e celebrar os 30 anos do Tratado de Assunção, que criou o Mercosul.

O encontro chamado de "Mercosul: avanços, desafios e perspectivas" reuniu a economista Zélia Cardoso de Mello, ministra da Economia, Fazenda e Planejamento do Brasil no período de 1990 a 1991, e o jurista Francisco Rezek, ministro das Relações Exteriores no período de 1990 a 1992, quando da assinatura do Tratado de Assunção. A iniciativa do debate partiu do senador Fernando Collor (Pros-AL), que presidia o país por ocasião da criação do Mercosul.

​Regiane Bressan disse que as discussões sobre "flexibilização" do Mercosul ocorrem em um momento de antagonismo entre o Brasil e Argentina, principais países do bloco.

"Sabemos que as diferenças ideológicas acabam respingando na área econômica, senão afetando o andamento do próprio bloco. O posicionamento em relação às questões econômicas e ao direcionamento da política externa brasileira sobre a política externa argentina de fato acaba afastando os países", disse.

O discurso de "modernização" também é levantado por outros líderes do bloco. Em março, o presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, propôs, durante a cúpula de 30 anos do Mercosul, que se discuta formalmente a flexibilização do bloco.

O ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto Franco França, que também participou do evento no Senado, defendeu que haja uma revisão da Tarifa Externa Comum (TEC) do bloco. "O Brasil apresentou recentemente proposta moderada e pragmática que busca sinalizar o compromisso com a redução dos níveis [da TEC] de hoje, das mais altas do mundo", afirmou.

O chanceler se referiu ao discurso do presidente Jair Bolsonaro durante a cúpula dos 30 anos do Mercosul que também pediu uma revisão da TEC.

'Flexibilização não significa que Mercosul esteja perto do fim'

Segundo Regiane Bressan, o governo brasileiro tem priorizado o comércio com países do chamado Norte global, como os Estados Unidos e países europeus.

"O bloco está passando por um momento em que os países estão se retraindo na região, sobretudo o Brasil, que está olhando muito mais para os países do Norte, priorizando os países europeus e os Estados Unidos, em detrimento daquela cooperação Sul-Sul, daquela retórica de Sul global", explicou.

Apesar das discussões sobre flexibilização do bloco, Bressan não acredita que o Mercosul esteja passando por uma crise derradeira e que possa chegar ao fim.

"É possível imaginar que com uma troca de governo, com novos interesses regionais, o bloco venha a ganhar força não somente na área econômica, mas também em outras frentes de atuação, como o interesse dos países do Mercosul em ratificar o acordo comercial com a União Europeia que está em negociação", completou.
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