O mês do Ramadã foi um desafio para muitos libaneses. Os preços dos alimentos subiram, as taxas de desemprego continuam altas e muitas pessoas continuam lutando contra a pobreza diariamente. Na verdade, a situação se tornou tão aguda que relatos recentes sugerem que o Hezbollah, um movimento de milícia xiita que detém assentos no Parlamento libanês, intensificou os preparativos para um possível colapso do Estado.
Preparando-se para o Juízo Final?
De acordo com relatos, o grupo está expandindo o sistema de cartão de racionamento, armazenando combustível e importando itens básicos como alimentos e medicamentos do Irã, em preparação para o que se acredita que serão os dias ainda mais difíceis pela frente.
Mohammed Kleit, um jornalista e ativista político baseado em Beirute, que tem monitorado a situação de perto, diz que as áreas controladas pelo Hezbollah viram um influxo de produtos iranianos nas últimas semanas, algo que já gerou polêmica, e também fragmentou a já dividida sociedade libanesa.
"Os partidários do Hezbollah defendem que os subsídios não só ajudarão os membros do grupo e suas famílias, mas também outras camadas fracas da população. Muitos outros criticam a organização por tal movimento, dizendo que estão usando seu poder brando para 'iranizar' partes do Líbano", contou à Sputnik Internacional.
No entanto, como sempre, a verdade provavelmente está em algum lugar no meio. Embora o Hezbollah provavelmente esteja usando os subsídios aos alimentos como uma campanha de relações públicas para o Irã, a confiança do grupo na República Islâmica é compreensível.
Com a queda da moeda e os preços dos alimentos subindo 400%, o abastecimento do Irã é necessário para manter a economia flutuando e as pessoas caladas. Mas Kleit diz que a situação descarrilou tanto que o povo libanês se recusa a ser silenciado.
A economia libanesa tem estado frágil desde que o país emergiu da guerra civil de 1975-1990, mas piorou significativamente após a eclosão da pandemia do coronavírus em fevereiro de 2020, que levou ao fechamento de muitas empresas privadas. A explosão mortal de Beirute em agosto de 2020 tornou a situação ainda mais terrível, custando à economia libanesa cerca de US$ 15 bilhões (equivalente a quase 82 bilhões de reais) em meio a extensos danos.
![À beira de colapso? Hezbollah estaria se preparando para 'dia do Juízo Final' no Líbano À beira de colapso? Hezbollah estaria se preparando para 'dia do Juízo Final' no Líbano - Sputnik Brasil, 1920, 28.04.2021](https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/07e4/09/0a/16054995_0:0:3072:2048_1920x0_80_0_0_c9d9dd9a4eb133064c2b429a74331487.jpg)
Quando as condições pioraram, os protestos recomeçaram com mais força. No final de março, centenas de manifestantes foram às ruas de Beirute por causa da deterioração das condições de vida e econômicas. Protestos semelhantes também ocorreram em outras partes do Líbano.
Kleit, que viu esses e outros protestos de perto e entrevistou dezenas de manifestantes, diz que muitos foram espancados. Outros enfrentaram ameaças ao seu emprego e segurança pessoal. É improvável que essa agitação termine em um futuro próximo, e Kleit está certo de que nem mesmo o Hezbollah, com seus fundos impressionantes, será capaz de resgatar o Líbano da atual bagunça.
Nos últimos anos, relatórios sugerem que o financiamento do grupo xiita caiu 40%, em parte devido às sanções ocidentais e em parte devido ao fato de que o Irã viu sua renda cair devido à queda dos preços do petróleo.
À beira do colapso
Se nem o Hezbollah nem o Irã puderem ajudar, o Líbano pode estar à beira do colapso, acredita Kleit. "Se a economia do Líbano entrar em colapso, o resultado óbvio seria uma guerra civil. Se isso acontecer, o Hezbollah provavelmente sairá triunfante devido à sua força formidável e isso pode abrir caminho para uma intervenção estrangeira no país."
"Servirá apenas como uma desculpa perfeita para potências estrangeiras lançarem uma operação militar no país para espalhar sua 'democracia'. O que acontecerá então? O Líbano se transformará em outro Afeganistão, Iraque, Somália ou Síria", alertou o jornalista.