Estes são os números mais recentes da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Caso a estimativa seja confirmada, o Brasil baterá o recorde histórico de US$ 67,7 bilhões (R$ 363,5 bilhões) de superávit alcançado em 2017.
Apesar dos números positivos, o presidente da AEB, José Augusto de Castro, faz uma ressalva: este é um aumento no valor das vendas, e não significa um volume maior de commodities vendido ao exterior.
"O ideal seria o aumento de quantidade, porque significaria aumento na atividade econômica interna. Claro que o aumento de preço impacta diretamente as reservar cambiais do Brasil, mas o objetivo nosso é gerar empregos e atividade econômica no mercado interno. […] Você não tem controle. O Brasil não provoca o aumento das commodities. Basicamente é o mercado quem decide o preço que vai pagar", diz Castro, em entrevista à Sputnik Brasil nesta quinta-feira (29).
Crescimento em todos os setores deve ser momentâneo
Segundo as projeções da AEB, o Brasil arrecadará em 2021 US$ 253,6 bilhões (R$ 1,3 trilhão) de exportações em commodities, gastando US$ 173,8 bilhões (R$ 933 bilhões) nas importações. O valor arrecadado com a exportação cresce tanto na agropecuária como na indústria extrativa e na indústria de transformação (celulose, açúcar, farelo de soja, entre outros). O maior crescimento é o da indústria extrativa, com variação positiva de 29% em relação a 2020.
Entre os principais bens in natura exportados pelo Brasil, quase todos apresentam variação positiva em relação a 2020. O minério de ferro, com aumento de 42%, a soja (+25%) e a celulose (+20%) são os que tiveram maior aumento. A carne de frango e o café são os únicos que não apresentaram crescimento – mas mantiveram o patamar de 2020, sem oscilar negativamente.
Todos os principais compradores reforçaram a clientela brasileira. A China, que já foi o principal importador de produtos brasileiros em 2020 comprando 28,59% do total exportado pelo Brasil, aumentou em 27,95% a compra de produtos brasileiros no primeiro trimestre de 2021. Os EUA também tiveram aumento (de 7,36%), assim como a Argentina (20,5%). Castro, no entanto, é taxativo ao dizer que este é um boom momentâneo.
"O problema é que esse crescimento de 2021 não tem como se sustentar em 2022. Toda vez você tem um boom das commodities, tem uma queda forte também. É aquele boom sobre o qual você não tem controle. Ou você aproveita ou não. […] As commodities não têm sustentação de um ano para o outro", afirma o presidente da AEB.
Após início de ano ruim, venda de soja e milho volta a crescer
Números da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (ANEC) confirmam o bom momento da agricultura brasileira. A exportação de soja – principal produto exportado pelo país atualmente – esteve muito abaixo do esperado em janeiro e fevereiro, mas voltou a se recuperar em março e abril. Desde julho do ano passado a exportação do cereal esteve abaixo de 10 milhões de toneladas. Em abril, o número voltou a passar desta marca, atingindo 14,9 milhões. Em abril, a estimativa é que ultrapasse os 15 milhões.
A exportação de milho também tem mostrado sinais de recuperação. A quantidade exportada em janeiro deste ano (2,1 milhões) é quase o dobro do que foi negociado em janeiro de 2020 (1,1 milhão).
"O nosso maior comprador de soja, de longe, é a China, é de longe. Ano passado os chineses compraram 73% do total exportado, e neste ano esse percentual vem crescendo. Países asiáticos, como Indonésia, Japão e Irã, também têm importado mais soja. […] A Rússia é um país para o qual o Brasil exporta muitos cereais", diz Sérgio Mendes, diretor geral da ANEC, em entrevista à Sputnik Brasil nesta quinta-feira (29).
Já em relação ao milho, o Irã é o nosso principal comprador, com cerca de 10% do total exportado. Outros países que se destacam na compra do milho brasileiro é a Espanha e os países do Oriente Médio, que utilizam o cereal para a alimentação de sua avicultura – o frango é a principal carne consumida na região.
A política externa de Bolsonaro: 'Há um temor'
Nos últimos meses, o governo Bolsonaro entrou em atrito com importantes parceiros comerciais do Brasil, em especial com a China e com os EUA. O presidente apoiou publicamente a candidatura de Donald Trump, que acabou vencido nas urnas. Em relação à China, o ex-chanceler Ernesto Araújo chegou a dizer, por exemplo, que é necessário barrar a ascensão do "tecnototalitarismo" de países com "diferentes modelos de sociedade", sem citar o país asiático.
Tanto Castro quanto Mendes afirmam que a postura da política externa do governo Bolsonaro "até agora não influenciou" no comércio exterior do Brasil. Ambos, porém, não escondem o temor de que isso possa acontecer.
"Há um temor. Evidentemente nos preocupa muito. As declarações contra a China, por tudo o que ela representa para nós, é o nosso principal parceiro, preocupa, muito. A cada momento você vê uma declaração aqui e acolá", diz Mendes.
No início deste mês, Jair Bolsonaro trocou o comando do Ministério das Relações Exteriores (MRE). O novo chanceler brasileiro, o embaixador Carlos Alberto Franco França, tomou posse no dia 6 de abril. Em seu primeiro discurso. Franco França enfatizou o diálogo multilateral, elogiou o Mercosul, defendeu o combate à pandemia como prioridade e citou três urgências: a da saúde, a da economia, e a do desenvolvimento sustentável.
Apesar do temor, Castro prefere focar nos tempos de "calmaria" que sucederam a troca no comando do MRE.
"Com a mudança do ministro nós passamos a adotar uma politica comercial mais diplomática efetivamente. Isso tudo indica que vai evitar possíveis atritos com a China, nosso maior comprador, mas também com Argentina, com a Índia, com os EUA, com vários países. Nesse momento vivemos uma relação de calmaria em termos de relações diplomáticas", finaliza Castro.