A Índia informou sobre dez milhões de novos casos nos últimos quatro meses. No entanto, especialistas em todo o mundo desconfiam dos números oficiais de mortes e infecções, dizendo que são grosseiramente subestimados.
Em entrevista à Sputnik, a doutora Monalisa Sahu, consultora de doenças infecciosas e médica no Hospital de Yashoda, na cidade indiana de Hyderabad, compartilhou sua experiência de trabalho em uma unidade de tratamento da COVID-19 e explicou como as mutações estão alterando a situação do vírus no país.
Segunda onda da COVID-19
Em comparação com a primeira onda do coronavírus na Índia, durante a segunda começou um aumento drástico de infecções, o que pode ser atribuído à falta de comportamento adequado perante a doença pelo público em geral. Eventos em massa contribuíram para o aumento dos casos positivos, segundo a doutora.
"Os confinamentos restritos que foram impostos durante a primeira onda, que contribuíram muito para a contenção da primeira onda, não foram implementados durante a segunda onda. Consequentemente, as pessoas ficaram mais relaxadas em seu comportamento", disse Sahu.
Além disso, as altas taxas de infecciosidade e transmissibilidade das novas variantes em circulação da COVID-19, que quase substituíram a cepa original do vírus, agravaram ainda mais a situação, afirmou a especialista.
Colapso do sistema de saúde
O pico da infecção é expectado no fim de maio. Considerando os picos no Reino Unido e em outros países europeus, Sahu sugeriu que o número de casos aumentará até aproximadamente 750 mil novas infecções diárias, "também pode atingir um milhão por dia".
A doutora afirmou que as pessoas devem tomar medidas adicionais, porque várias mutações "muito preocupantes" também estão presentes no país.
"O número de pessoas infectadas com a doença é muito elevado, consequentemente, há falta de leitos hospitalares, e todo o sistema de saúde está sob estresse enorme. Há insuficiência de oxigênio, leitos e ventiladores e, portanto, temos de diminuir a onda para que o sistema de saúde não colapse", segundo Sahu.
Em 1º de maio começou a vacinação em massa na Índia, no entanto o país, devido à grande população de 1,3 bilhão de habitantes, enfrentou dificuldades. Quando a imunização começou, foi destinada aos grupos de alto risco, profissionais de saúde e depois aos idosos.
"A estratégia do governo em relação à vacinação foi muito adequada, mas considerando o tamanho enorme da população do país, as autoridades têm tentando aumentar a produção de vacinas e também foram bem-sucedidas em fazê-lo até certo ponto", disse a especialista indiana.
Para prevenir a situação atual, a Índia poderia ter se preparado melhor em termos de camas de oxigênio, ventiladores e melhorando a cadeia de suprimentos para o setor da saúde, dado que havia previsões de haver uma segunda onda da COVID-19, afirmou Sahu.
"Alguns estados, como Kerala, fizeram bastante bem seu trabalho, aumentando suas camas de oxigênio até cinco vezes. Mobilização de outros recursos para ajudar ao setor da saúde, como aumento de paramédicos e pessoal de enfermagem, também pode impulsionar a preparação", revelou a especialista.
De acordo com Sahu, agora é necessário conter a propagação do coronavírus com confinamento e aumento da dimensão da cadeia de suprimento de medicamentos essenciais, oxigênio, leitos e ventiladores para lidar com a "situação sombria atual".