Após 35 anos do pior acidente nuclear da história acontecer na Usina Nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, as reações de fissão estão queimando mais uma vez em massas de combustível de urânio enterradas nas profundezas de uma sala de reator destroçada, reporta a revista Science.
De acordo com cientistas, os sensores estão rastreando um número crescente de nêutrons, em um sinal de fissão, fluindo de uma sala inacessível, e agora o desafio é conseguir determinar se as reações desaparecerão por conta própria ou se precisarão de intervenções extraordinárias para evitar outro acidente.
"É como as brasas em uma churrasqueira", disse Neil Hyatt, químico nuclear da Universidade de Sheffield, no Reino Unido.
O espectro da fissão autossustentável, ou criticidade nas ruínas nucleares, há muito tempo assombram a usina nuclear. Porém, os responsáveis de Chernobyl presumiram que qualquer risco de criticidade desapareceria quando o projeto chamado Novo Confinamento Seguro foi idealizado para proteger o núcleo do reator número quatro da central de Chernobyl em novembro de 2016.
A estrutura do projeto (que funcionaria como um sarcófago cobrindo o reator) foi destinada a isolar o mesmo para que pudesse ser estabilizado e posteriormente desmontado, e desde sua colocação a contagem de nêutrons na maioria das áreas da usina estava estável. Porém, agora eles começaram a subir em alguns pontos, quase dobrando em quatro anos na sala 305/2, que contém toneladas de materiais de combustíveis enterrados sob os destroços.
Segundo a mídia, a ameaça não pode ser ignorada, pois à medida que os nêutrons crescem, o temor é que a reação de fissão acelere exponencialmente, levando a uma liberação descontrolada de energia nuclear.
Lidar com a ameaça recém-descoberta é bastante desafiador, pois os níveis de radiação na sala 305/2 impedem os cientistas de chegarem perto o suficiente para instalação de sensores. Ao mesmo tempo, borrifar nitrato de gadolínio nos detritos nucleares não é uma opção, já que todo o processo está acontecendo sob o concreto. Uma ideia seria o desenvolvimento de um robô que possa suportar a radiação intensa por tempo suficiente para fazer furos e inserir cilindros de boro, que funcionariam como hastes de controle e absorveriam os nêutrons.
Há muito tempo a Ucrânia planeja cuidar da área e armazenar a estrutura em um repositório geológico, mas nada ainda foi feito. Em setembro deste ano, com a ajuda do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento, o país pretende ter um plano abrangente para fazê-lo. Mas com a ameaça constante dentro da usina, pode ser mais difícil do que nunca enterrar os restos ativos do reator.