Ladrões retiraram do México documentos autênticos de Hernán Cortés, famoso colonizador espanhol das Américas, e os colocaram em leilões nos EUA, reportou na quinta-feira (13) a agência britânica Reuters.
Como foi relatado à mídia pelo Arquivo Geral da Nação (AGN, na sigla em espanhol), na Cidade do México, três pesquisadores do país, uma das quais é especialista em livros coloniais espanhóis do séc. XVI, descobriram uma série de documentos relacionados a ele e que foram leiloados a partir de abril de 2017, o que chamou sua atenção.
O primeiro objeto era uma carta de 1538 do conquistador a seu gerente de propriedade, que foi vendida pelas Galerias de Swann, EUA, a um comprador anônimo por US$ 32.500 (R$ 171.338,38), antes de ser exposta em 2018 na Biblioteca e Museu Morgan em Nova York, EUA. Os leilões de documentos de Cortés não ocorriam desde 1984 e "são bastante raros no mercado", indicaram as Galerias de Swann.
Questionada pela Reuters, a Biblioteca e Museu Morgan explicou que se tratava de parte de uma exposição de Pedro Corrêa do Lago, historiador de arte brasileiro. Este, por sua vez, respondeu que devolveu a carta, que teria adquirido "de boa-fé", às Galerias de Swann, referindo que se tratou de uma "ocorrência muito rara e infeliz". A organização norte-americana declinou responder a estes últimos comentários.
Três outras organizações, Bonhams, Nate D. Sanders e Christie's, também colocaram à venda manuscritos de Hernán Cortés em 2017, com apenas a última respondendo que dedica "recursos consideráveis para investigar a proveniência e autenticidade" dos objetos leiloados, mas "não comenta sobre investigações em andamento".
Com a continuidade do aparecimento de documentos à venda em 2018, 2019 e 2020 e a inação do governo mexicano, os pesquisadores lançaram sua própria investigação em meados de 2020, contratando a ajuda de María del Carmen Martínez, acadêmica especializada em Cortés da Universidade de Valladolid, Espanha.
Ela tinha tirado milhares de fotografias dos documentos do conquistador espanhol durante duas visitas ao AGN em 2010 e 2014, e descobriu que oito dos dez manuscritos em exposição nas organizações eram iguais a essas fotos.
Após serem questionadas pela Reuters, as Galerias de Swann cancelaram um leilão de 24 de setembro de 2020, que seria o décimo deste tipo desde 2017.
Início da investigação
Sem certeza do que tinha acontecido e com 60% de seu material sem catálogo, o AGN pediu a ajuda da Sociedade Genealógica de Utah, EUA, um braço da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
A organização sem fins lucrativos, agora conhecida como FamilySearch, fotografou arquivos em todo o mundo para ajudar os mórmons e outros a rastrear seus ancestrais, incluindo no AGN, em 1993. Foi descoberta uma correspondência de imagens em nove dos dez manuscritos enviados para leilão, bem como uma descrição escrita do décimo, todos os quais estavam desaparecidos dos arquivos.
O caso acabou desencadeando investigações nos EUA por um dos escritórios da Procuradoria Federal no estado de Nova York, as Investigações de Segurança Nacional (HSI, na sigla em inglês), bem como pelas próprias autoridades federais mexicanas. Aos departamentos de Estado e de Justiça foi solicitada ajuda pelo Ministério das Relações Exteriores do México para repatriar os documentos roubados.
As autoridades norte-americanas provavelmente intimariam as casas de leilão para identificar os vendedores e consignadores que trataram do transporte dos documentos. A estratégia, disse um ex-agente do Departamento Federal de Investigação (FBI, na sigla em inglês) dos EUA, é chegar gradualmente aos suspeitos do roubo no México.