Em tom semelhante a cartas abertas anteriores que foram assinadas por militares reformados e ativos, uma petição assinada por 93 ex-policiais instou o presidente Emmanuel Macron, o governo e legisladores a "fazer todo o possível para pôr fim à situação extremamente grave que a França está passando em termos de segurança e paz pública".
A carta que se coloca como uma forma de garantir a segurança dos cidadãos franceses diz: "A França não deve cair no caos. A Polícia francesa não pode permitir que as Forças Armadas a substituam amanhã para evitar uma guerra civil."
Em petição on-line postada no site mesopinions.com, os policiais já contavam com o apoio de quase 41 mil pessoas no início da manhã desta segunda-feira (17).
Os signatários escreveram que os ataques à polícia constituem "a rejeição de nossos valores republicanos, nossos costumes e nosso modelo de sociedade". A carta mencionava Eric Masson, um oficial que foi morto durante uma operação antidrogas na cidade de Avignon, no sul da França, neste mês.
"Ataques abertos a delegacias por hordas de indivíduos armados e mascarados estão se espalhando por nosso território impunemente", dizia a carta, acrescentando que a França "se fragmentou em enclaves".
Os signatários pediram para "rearmar [a polícia] material, moral e legalmente", para que possa continuar a desempenhar as suas funções sem "arriscar a vida em cada esquina".
"É hora de medidas eficazes para retomar nosso próprio país e restaurar a autoridade do Estado onde quer que ele falhe", escreveram os ex-policiais.
Frédéric Veaux, o diretor da Polícia Nacional da França, respondeu em uma carta de sua autoria, que foi citada pela mídia francesa. Veaux argumentou que os ex-policiais ainda estão sujeitos ao "dever de contenção" – uma lei que exige que os funcionários públicos mostrem "contenção e moderação" ao expressar opiniões pessoais em público.
A autoridade faz elogios ao governo em termos de proteção de policiais e critica diretamente a petição. Para Veaux, "a iniciativa enfraquece nossa instituição mais do que a fortalece". Ele argumentou que a força policial francesa "mais do que nunca precisa de autoconfiança, unidade e coesão dentro de suas fileiras, sem o espírito de partidarismo".
O primeiro apelo veio em abril e foi assinado por 25 generais reformados e mais de mil soldados tanto reformados como ativos. Falava de uma possível guerra civil e instava as autoridades a intervir contra a "desintegração" francesa. A carta pedia especificamente a Macron que combatesse "o islamismo e as hordas dos subúrbios" e também "indivíduos mascarados" que atacam delegacias de polícia.
A segunda petição era anônima, com os autores se descrevendo como soldados pertencentes à geração mais jovem. Eles pediram que medidas fossem tomadas para evitar que a França se tornasse "um Estado falido". A revista Valeurs Actuelles disse que a carta, que foi publicada em 11 de maio, foi lida por mais de 2,4 milhões de assinantes.
As cartas atraíram muita atenção da mídia e geraram debates na França. Marine Le Pen, que lidera o partido conservador Rally Nacional, disse que compartilha as preocupações expressas pelos soldados. Oficiais do governo e altos escalões das Forças Armadas da França argumentaram que o tom das petições era inadequado e que os militares deveriam permanecer neutros em assuntos políticos.
O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general François Lecointre, afirmou que os militares ativos deveriam renunciar se quiserem fazer tais declarações em público. Ele também disse que os militares ativos que forem identificados como signatários da carta de abril serão submetidos à corte marcial por quebrar a regra de neutralidade.