Os documentos, relatados pelo jornal The New York Times no sábado (22), revelam a extensão das discussões de Washington sobre o uso de armas nucleares para deter invasão chinesa a Taiwan, incluindo o consentimento de alguns líderes militares dos EUA de eventuais contra-ataques nucleares a agressões a bases norte-americanas.
As novas informações foram fornecidas ao jornal por Daniel Ellsberg, o delator que, em 1971, vazou os Papéis do Pentágono que detalhavam a duplicidade do governo dos EUA em sua manipulação da Guerra do Vietnã, escreve CNN.
"A primeira utilização norte-americana de armas nucleares não deve ser contemplada, preparada, ou ameaçada em qualquer lugar, sob quaisquer circunstâncias, incluindo a defesa de Taiwan", escreveu Ellsberg no Twitter.
Depois que o Partido Comunista tomou o poder na China continental em 1949, após uma guerra civil, o governo nacionalista fugiu para Taiwan. Mas Pequim encarava a ilha como parte de seu território, e os dois entraram em confrontos ao longo das seguintes décadas.
O mais próximo que os EUA e a China estiveram de um conflito armado foi durante a Crise do Estreito de Taiwan de 1958, quando chineses usaram artilharia contra as ilhas periféricas de Taipé. Washington receava que o ataque pudesse ser um precursor de uma invasão total.
De acordo com documentos vazados, alguns oficiais dos Departamentos de Estado e de Defesa dos EUA estavam preocupados que a perda de referidas ilhas pudesse levar a uma completa " tomada comunista chinesa de Taiwan".
Em caso de ataque aéreo ou marítimo às ilhas taiwanesas, o general da Força Aérea dos EUA, Nathan Twining, disse que Washington teria que usar armas nucleares contra bases da Força Aérea chinesa para "evitar uma campanha de interdição aérea bem-sucedida", começando com "armas nucleares de baixo rendimento de 10 a 15 quilotons".
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Se isso não levasse a interrupção de ataque da China continental, "os EUA […] não teriam alternativa a não ser conduzir ataques nucleares no interior da China ao norte até Xangai".
Documentos revelam que o chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA reconhecia que isto "quase certamente" levaria à retaliação nuclear a Taiwan e à base militar dos EUA em Okinawa, no Japão. "Mas ele enfatizou que se a política nacional é defender as ilhas costeiras as consequências teriam de ser aceitas", diz documento.
No final das contas, o presidente dos EUA, Dwight D. Eisenhower, estava hesitante em usar armas nucleares e pressionou as tropas norte-americanas a manterem as armas convencionais.
Um acordo de cessar-fogo no estreito de Taiwan foi alcançado em 6 de outubro de 1958, embora tenha havido tensões entre Pequim e Taipé.