Um estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-IBRE) divulgado na semana passada mostra que, apesar da melhora no indicador de clima econômico, a América Latina ainda permanece na zona desfavorável do ciclo econômico.
Segundo a pesquisa do FGV-IBRE, o Indicador de Clima Econômico (ICE) da América Latina avançou de 70,5 para 81,2 pontos entre o primeiro e o segundo trimestre de 2021. No entanto, para que haja um mudança de zona desfavorável para favorável, é preciso que o índice supere a marca de 100 pontos.
#ICE | O Indicador de Clima Econômico da #AméricaLatina do #FGVIBRE avançou de 70,5 para 81,2 pontos entre o 1º e o 2º trimestre de 2021. Apesar da alta de 10,7 pontos, o indicador continua na zona desfavorável do ciclo econômico. Leia mais em https://t.co/cKEtxZvfgN#índiceIBRE pic.twitter.com/Kix9L6HYhl
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Assim, mesmo com o crescimento de 10,7 pontos, os especialistas afirmam que o indicador continua na zona desfavorável do ciclo econômico, ou seja, com avaliações desfavoráveis sobre o presente e expectativas otimistas em relação ao próximo ciclo.
Em entrevista à Sputnik Brasil, a economista Lia Valls, pesquisadora do FGV-IBRE e autora do estudo, explica que o ICE da América Latina é um índice composto dos principais países da região, que é calculado como uma média de duas informações: o Indicador da Situação Atual (ISA), que avalia o momento presente, e o Indicador de Expectativas (IE), que analisa o que pode acontecer em um intervalo de seis meses.
Segundo Lia Valls, esses indicadores trazem informações sobre investimentos, consumo, confiança de consumidores e investidores, inflação, taxa de juros e câmbio, e são trimestrais.
"É importante olhar esses dois indicadores, porque, por exemplo, se você tem uma situação desfavorável, ruim, hoje, mas você espera uma melhora na situação daqui para frente, isso é indicador que naquele país o clima econômico pode ser que melhore", afirma a pesquisadora.
Na estimativa do segundo trimestre de 2021, todos os países da América Latina estão na zona desfavorável, com exceção do Paraguai. Além disso, todos apresentam números desfavoráveis no ISA e mostram indicadores positivos no IE, exceto a Argentina. O Brasil, por sua vez, tem o quarto pior ISA, ficando à frente apenas de Argentina, Equador e Uruguai, e tem a maior diferença entre ISA e IE, de 164,8 pontos
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"O único sinal positivo que a gente teve nessa avaliação [...] é que quase também todos os países estão com as expectativas em um patamar favorável [...] Então, embora a situação atual seja considerada desfavorável, há uma expectativa de melhora", afirma Lia Valls.
O estudo ressalta que a pandemia é uma dos principais responsáveis pela percepção desfavorável do ciclo econômico da América Latina, que vive a pior situação de COVID-19 no mundo, com mais de um milhão de mortes, o que equivale a cerca de 30% dos óbitos globais totais. Além do impacto da doença em si, o fato de as campanhas de vacinação serem consideradas muito lentas nos países, ajuda a empurrar para baixo o indicador.
Em relação ao IE, os números altos refletem o aumento da demanda mundial por commodities e, consequentemente, do preço das mesmas. Segundo Lia Valls, "muitos desses países [da América Latina] são exportadores de commodities, então isso vai melhorar os termos de troca e, portanto, a renda". Além disso, a pesquisadora destaca que existe a expectativa de que "a vacinação acelere no segundo semestre" e "amenize um pouco os efeitos" da pandemia, principalmente o setor de serviços.
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Contudo, a pesquisadora ressalta que há países que têm maior peso na avaliação, como Brasil e Argentina, e que estão com a situação atual desfavorável em níveis muito baixos. Assim, não há garantia de que a região conseguirá evoluir para uma zona favorável mesmo com grande melhora nas expectativas.
"Você pode ter uma melhora novamente do indicador, mas passar para uma zona favorável do clima econômico, é um desafio um pouco maior e não depende só das questões conjunturais", opina.
Nesse sentido, Lia Valls considera que são necessária mudanças mais profundas e estruturais na sociedade latino-americana, para que se possa dar um salto.
"A gente faz uma pesquisa também sobre problemas que afetam a economia e a gente vê que a falta de infraestrutura, a qualidade da mão de obra e uma série de outros problemas continuam afetando os países latino-americanos", conclui.