A Marinha dos EUA vem enfrentando diversos problemas: velozes navios de combate litoral tiveram falhas de propulsão, armas de destróier furtivo possuem munição cara demais e novo porta-aviões teve problemas com o sistema de lançamento de aeronaves. Além disso, fotos constrangedoras de navios enferrujados ressaltam os atrasos na manutenção de navios de guerra, agravados pela pandemia, segundo o jornal The Economic Times.
Os problemas da Marinha norte-americana causaram atrasos e custaram bilhões de dólares, justamente em um momento em que as tensões estão crescendo no mar do Sul da China, a Marinha russa está encorajada e embarcações iranianas andam pelo golfo Pérsico, escreve o jornal.
O analista de defesa do Instituto Lexington, Loren Thompson, disse não acreditar que os EUA consigam enfrentar a "ameaça da China" nestas condições.
O almirante Mike Gilday, chefe das Operações Navais, insiste que a Marinha norte-americana está agora em uma "trajetória positiva", mas terá que reconstruir a confiança sob o escrutínio do Congresso enquanto prepara um novo plano estratégico que incluirá outro investimento de longo prazo, veículos não tripulados e mísseis hipersônicos. A administração Biden está preparando nesta semana uma proposta orçamentária da Marinha para apresentá-la aos legisladores.
A frota da Marinha atualmente tem menos de 300 navios, apesar de uma meta declarada de 355 navios. A frota chinesa agora supera a Marinha dos EUA.
"Os chineses estão mais perto de nossa meta do que nós", disse a senadora republicana Susan Collins, do Maine, que faz parte do Comitê de Apropriação e quer aumentar os gastos da Marinha.
O senador democrata Jack Reed e o senador republicano Jim Inhofe, presidente e membro graduado do Comitê das Forças Armadas, criticaram os atrasos e os custos excessivos nos primeiros navios de série e instaram a Marinha a garantir que a tecnologia esteja pronta antes de colocá-la a bordo.
Membros do Congresso, que controlam a verba, dizem que a Marinha também deve gastar bilhões de dólares a mais nos estaleiros públicos que mantêm os navios.
"A Marinha precisa colocar seu traseiro em marcha", disse o republicano Rob Wittman, que descreveu a Marinha como se ela estivesse "em uma dessas encruzilhadas".
O problema da Marinha, na visão de Thompson, é que os líderes apressaram a produção de novas classes de navios ambiciosas e começaram a construção antes que os projetos fossem finalizados e a tecnologia totalmente testada.
Por exemplo, o Zumwalt de propulsão elétrica, comissionado em 2016, foi projetado para chegar perto da costa para bombardear alvos terrestres. Mas seu avançado sistema de canhão de 155 milímetros está sendo descartado porque cada projétil impulsionado por foguete e guiado por GPS custa quase tanto quanto um míssil de cruzeiro.
Enquanto isso, duas versões de veloz navio de combate litoral foram imaginadas como perseguindo navios piratas. Uma versão tinha problemas de propulsão em toda a classe e ambas foram criticadas como pouco blindadas para combater em mar aberto. A Marinha já está descartando os quatro primeiros navios.
O navio mais caro da história da Marinha, por sua vez, é o mais novo porta-aviões, o USS Gerald Ford, que teve problemas com o sistema de lançamento de caças e os elevadores que movimentam armas fazendo com que os custos aumentassem muito.
Juntos, os custos dos primeiros navios em cada uma dessas classes foram de 23% a 155% – ou cerca de US$ 5 bilhões (R$ 26,5 bilhões) – mais altos do que as estimativas originais, de acordo com o Escritório de Orçamento do Congresso.
O Congresso pede paciência da Marinha "exigindo integração de sistema entre plataformas e novas tecnologias e testes completos antes de lançar novos programas", disse o senador Mazie Hirono, democrata do Havaí e presidente do Subcomitê de Poder Marítimo dos Serviços Armados.
Os legisladores examinaram a prontidão da Marinha e as tripulações sobrecarregadas desde que 17 marinheiros foram mortos em duas colisões separadas envolvendo destróieres da Marinha em 2017.
É isso o que 215 dias consecutivos no mar fazem à um navio! O USS Stout bateu o record da US Navy ao permanecer 215 dias sem sequer se aproximar de um porto. Retornou semana passada e agora passará por uma manutenção completa, o que inclui tirar essas marcas de ferrugem, claro! pic.twitter.com/i6fyoOeVBu
— Hoje no Mundo Militar (@hoje_no) October 21, 2020
O ritmo incessante da Marinha continua causando estresse nos navios e na tripulação. Fotos do USS Stout mostraram muita ferrugem quando retornava de um desdobramento de 210 dias no outono passado (primavera no Hemisfério Sul) para a Estação Naval de Norfolk, na Virgínia. A ferrugem foi estética, mas ressaltou o custo da manutenção adiada e de longos deslocamentos em navios e marinheiros, que não fizeram escalas durante a pandemia.
A Marinha reconheceu problemas nos programas de construção naval, enquanto teve sucesso em outros, incluindo submarinos. Mas navios antigos – 60% da frota atual foi comissionada em 2001 ou antes – fizeram com que os custos de manutenção e operação aumentassem em um momento em que a Marinha deseja gastar em novos navios e pesquisa.
Seria necessário um aumento anual de 4,1% no financiamento para aumentar a frota para 355 navios em cerca de uma década, ao mesmo tempo em que outras obrigações seriam cumpridas, como investimentos em estaleiros, ponderou Gilday.