Sistema criado com o objetivo de estabelecer uma linguagem comum para transações financeiras no mundo em um sistema de processamento de dados e uma rede de telecomunicações, o SWIFT (sigla em inglês para Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais) é um sistema internacional interbancário de transmissão de informação e pagamentos ao qual são conectadas mais de 11 mil das maiores organizações de quase todos os países.
Criado na década de 1970, o SWIFT atualmente opera não só em tecnologias de ponta, mas também em infraestrutura planetária, permitindo ao governo dos EUA bloquear nações e instituições que considere inimigas e chantagear quem não tem outra alternativa de intermediação financeira.
Da emergência surge o desafio e do desafio emergem as capacidades que podem legar ao mundo novas tecnologias e infraestruturas que possibilitem um vínculo confiável entre os sistemas financeiros do planeta na salvaguarda da segurança das nações que aspiram ser livres.
As alternativas
Desde 2014, a Rússia começou a desenvolver uma plataforma alternativa ao SWIFT, o Sistema de Transferência de Mensagens Financeiras (SPFS, na sigla em inglês). A iniciativa ocorreu devido à ameaça dos EUA de querer desconectar a Rússia do sistema SWIFT.
Em 2019, Rússia, Índia e China, membros do bloco comercial BRICS, decidiram conectar seus sistemas de transações financeiras para contornar o SWIFT. Dessa forma, o SPFS foi ligado ao Sistema Chinês de Pagamento Internacional (CIPS, na sigla em inglês).
Em abril deste ano, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergri Lavrov, pediu ao Banco Central da Rússia e ao governo Putin para garantir a confiabilidade do SPFS, após uma nova escalada de pressão dos países europeus contra Moscou. Na ocasião, o Parlamento Europeu propôs desconectar a Rússia do SWIFT.
"Ambas as iniciativas [SPFS e CIPS], embora sejam recentes, já abrem esperança em alternativas diferentes do sistema SWIFT", afirma à Sputnik Mundo Juan Carlos Valdez, especialista venezuelano em direito tributário e economia política.
"Embora o sistema russo tenha muitas limitações para transferências internacionais e o sistema chinês tenha um grau de dependência do sistema SWIFT, ambos os sistemas buscam no médio prazo se tornarem alternativas mais seguras e eficientes para a transmissão de dados para transferências financeiras", garante Valdez.
Para o especialista venezuelano, a China tem uma grande expansão comercial global que pode vir a servir de plataforma para atrair gradativamente bancos ao seu sistema, o que favoreceria no médio prazo deslocar a hegemonia do SWIFT e evitar que este sistema seja usado como "arma" de guerra pelos EUA e seus países aliados.
"O sistema russo, por sua vez, apresenta-se como mais uma opção confiável, mas sua expansão internacional passa pelo fortalecimento das fragilidades que o sistema hoje apresenta e pela manutenção de sua aliança estratégica com a China", destaca o Valdez.
Soberania das nações
Em conversa com a Sputnik, o economista Tony Boza acrescenta alguns dados valiosos para mostrar a importância da criação de sistemas financeiros alternativos.
"Em relação à dependência do uso do dólar, até o primeiro trimestre de 2020, o uso dessa moeda no comércio entre os dois países [Rússia e China] caiu para menos de 50%, quando há apenas quatro anos esse percentual girava em torno de 80%", destaca Boza.
Em uma pesquisa recente, pesquisadores Sergio Rosanovich e Lucía Converti, do Centro Estratégico Latino-americano de Geopolítica consideram que se trata de salvaguardar a soberania das nações, especialmente na América Latina, concebendo um "mecanismo regional que permita contornar as tentativas de bloqueio financeiro que pretendem impor poderes externos à região".
Na mesma linha, Boza acredita que é recomendável que países como a Venezuela, que tem sentido mais fortemente o impacto das sanções unilaterais dos EUA, realizem ações de coordenação com outros países da região, e com a China e a Rússia, com o objetivo de conciliar "plataformas de validação de transações financeiras".
No entanto, o economista venezuelano acredita que essa não é a única forma de avançar na superação da chantagem que a Casa Branca impõe aos países por meio do formato financeiro.
"A Venezuela tem promovido o uso de criptoativos, como o petro, orientados na mesma direção de desdolarizar a economia venezuelana, criando ferramentas para a liberação do sistema financeiro internacional e conseguir independência nas relações comerciais internacionais, especialmente para contornar a série de medidas coercitivas unilaterais, em violação do direito internacional, implementadas pelos EUA contra nossa pátria", finaliza Boza.