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Como fabricantes da Sputnik V inventaram método 'coquetel de vacinas' que está na boca do povo?

© REUTERS / Dado RuvicTubos de ensaio são vistos à frente de um logotipo do Sputnik V, em foto de 21 de maio de 2021
Tubos de ensaio são vistos à frente de um logotipo do Sputnik V, em foto de 21 de maio de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 18.06.2021
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Em 2020 os fabricantes do imunizante russo Sputnik V introduziram uma nova abordagem à imunização contra COVID-19 por mistura de vacinas. Neste ano, pesquisadores que usaram outras vacinas demonstraram mais uma vez que o método é exitoso.

"Imunização heteróloga" se tornou recentemente um assunto popular para os cientistas que estão na linha da frente de programas de vacinação contra COVID-19 em todo o mundo. Em termos leigos isso significa "misturar e combinar" diferentes vacinas para alcançar uma reposta imunológica melhor, e aparentemente o método funciona.

Os resultados do recente estudo da Universidade do Sarre (Alemanha), realizado entre 250 pessoas que receberam várias combinações de vacinas da Pfizer e AstraZeneca, demonstraram que existem determinados benefícios em misturar diferentes imunizantes.

O objetivo da pesquisa era determinar a quantidade de anticorpos que apareciam no sangue das pessoas que foram submetidos aos testes e avaliar a reação de células T protetoras após as pessoas terem recebido uma combinação das duas vacinas.

O estudo revelou que a combinação de Pfizer e AstraZeneca, tal como uma dose dupla de Pfizer, mostraram melhores resultados em comparação com uma dose dupla de AstraZeneca.

As pessoas que foram submetidas aos dois primeiros tipos de vacinação tiveram 10 vezes mais anticorpos protetores contra o coronavírus do que o último grupo. Quanto à formação de células T, os "coquetéis de vacinas" também mostraram melhores resultados.

Quando os principais meios de comunicação de todo o mundo descreveram o estudo sobre misturas de imunizantes como revolucionários, na verdade isso não era nada de novo.

Sputnik V, o primeiro 'coquetel de vacinas' no mercado global

Cientistas russos têm usado "o método de coquetel" desde 2019, quando o Centro Gamaleya lançou uma vacina contra a MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio). Quando se tratou da criação de sua vacina contra a COVID-19, os cientistas confiaram outra vez nesta tecnologia: o primeiro imunizante do mundo contra o coronavírus incluiu não um, mas a combinação de dois vetores portadores de adenovírus.

A Sputnik V é administrada em um método de vacinação dose-reforço (prime-boost). No início, a pessoa recebe uma injeção do vetor adenoviral Ad-26, que carrega o gene de comprimento completo da glicoproteína S do SARS-CoV-2. Após 21 dias, é administrada a 2ª dose, mas desta vez ela é baseada no vetor adenoviral Ad-5.

Existem várias razões para a escolha da estratégia de vacinação de injeção dupla. Primeiramente, a pessoa poderia já ter estado em contato com um dos dois tipos de adenovírus, enquanto o segundo é quase de certeza totalmente novo para o sistema imunológico da pessoa, o que torna possível que a vacina funcione de forma eficaz. Outra razão é o fator de "reforço", que duplica o efeito positivo do imunizante e reforça a primeira dose.

Outra razão importante para aplicar dois vetores adenovirais diferentes é a reação imunológica. Usar o mesmo tipo de adenovírus em duas doses poderia levar o corpo da pessoa a desenvolver uma resposta imunológica contra o vetor e destruí-lo quando a segunda dose é administrada.

Sputnik V é o primeiro coquetel de vacina de vetores adenovirais Ad-26 e Ad-5 para uma maior imunidade. Sputnik V iniciou o primeiro ensaio clínico de mistura de sua vacina com outro imunizante. A revista ScienceMagazine, sem nos mencionar, está reconhecendo a genialidade de nossa abordagem.

O estudo relativamente à segurança e eficácia da Sputnik V, publicado em fevereiro de 2021 pela revista Lancet, mostrou que "a estratégia de vacinação heteróloga de dose-reforço proporciona respostas imunes humorais e celulares robustas, com 91,6% de eficácia contra COVID-19".

Lancet também usou o termo científico "abordagem heteróloga do adenovírus recombinante", ou simplesmente "o método do coquetel", em relação à vacina russa. O artigo de fevereiro da Lancet apontou que, "entre as principais vacinas contra COVID-19 que estão em desenvolvimento, apenas Gam-COVID-Vac (nome científico da Sputnik V) usa essa abordagem, outras, tais como a vacinas Oxford-AstraZeneca, usam o mesmo material para ambas as doses".

Colaboração em matéria de vacinas

No final de 2020, os fabricantes da Sputnik V também foram os primeiros a iniciarem uma colaboração intervacinas. A equipe do Centro Gamaleya, junto com Fundo Russo de Investimentos Diretos (RFPI, na sigla em russo), iniciou ensaios clínicos conjuntos com a AstraZeneca com foco no uso de uma combinação de duas vacinas diferentes para aumentar a eficácia dos imunizantes da AstraZeneca de 62,1% para 90%.

As negociações sobre o assunto foram motivadas por uma oferta da Sputnik feita no Twitter em novembro de 2020 e, em dezembro do mesmo ano, um memorando foi assinado pela AstraZeneca, Fundo Russo de Investimentos Diretos, fabricante russo de medicamentos R-Pharm e Centro Gamaleya facilitando uma maior cooperação entre as empresas.

​Sputnik V usa 2 vetores adenovirais humanos diferentes em 2 injeções para garantir que a imunidade à 1ª dose não torne a 2ª menos eficaz. Propusemos à AstraZeneca usar um de nossos vetores para que eles também possam ter dois vetores em sua vacina. AstraZeneca confirmou.

Sputnik V tem o prazer de compartilhar um de seus dois vetores adenovirais humanos com a AstraZeneca para aumentar a eficácia da vacina AstraZeneca. O uso de dois vetores diferentes em duas injeções da vacina resultará em maior eficácia do que o uso do mesmo vetor em duas injeções.

Embora os resultados dos ensaios conjuntos ainda não tenham sido publicados, os resultados preliminares já são considerados positivos. De acordo com o dr. Debkishore Gupta, consultor no departamento de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas no Hospital Ruby General na Índia, "a parceria entre a Sputnik e a AstraZeneca pode beneficiar esta última de forma enorme".

Sputnik V é uma vacina contra o novo coronavírus que já recebeu a aprovação oficial em 67 países com uma população total de 3,5 bilhões de habitantes.

Com a recente autorização no Brasil, Sputnik V está agora em 67 países.

Sputnik V tem uma eficácia comprovada de 91,6% contra a COVID-19, mais elevada em alguns ensaios recentes, tendo demonstrado uma eficácia de 94,3% na campanha de vacinação no Bahrain.

Embora alguns países da União Europeia, tais como a Hungria, tenham autorizado o uso da Sputnik V, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e, em particular, seu comitê de medicamentos para uso humano, que iniciaram uma avaliação da vacina russa em março de 2021, ainda não aprovaram seu uso mais amplo em toda a União Europeia.

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