O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou na quinta-feira (17) que é possível estabelecer ações contra o desperdício de alimentos reaproveitando comida que seria perdida para apoiar famílias em insegurança alimentar.
"O prato de um [cidadão de] classe média europeu, que já enfrentou duas guerras mundiais, são pratos relativamente pequenos. E […] fazemos almoços onde às vezes há uma sobra enorme. Isso vai até o final, que é a refeição da classe média alta, até lá há excessos […]. Toda aquela alimentação que não for utilizada durante aquele dia no restaurante, aquilo dá para alimentar pessoas fragilizadas, mendigos, desamparados. É muito melhor do que deixar estragar essa comida toda", disse Guedes durante o Fórum da Cadeia Nacional de Abastecimento, promovido pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
Em conversa com a Sputnik Brasil, o economista Mauro Rochlin, professor dos cursos de MBA da FGV, explica porque essa ideia do ministro é inviável.
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Medida inócua
Durante o evento, o ministro desenvolveu um pouco mais a proposta que tem em mente.
"A principal ideia é conectar a solução do problema do desperdício com o ataque direto à fome que é justamente objetivo das nossas políticas sociais. Precisamos facilitar a conexão entre as políticas sociais de um lado e o desperdício que ocorre do outro lado", disse Guedes.
#COMBATEÀFOME | Ministro Paulo Guedes defendeu, em evento das da Abras, combate ao desperdício de alimentos, fortalecimento da agricultura familiar e medidas para gerar mais empregos no setor supermercadista. Saiba mais: https://t.co/6tTCmB0ool pic.twitter.com/Tr4uLVh0y3
— Ministério da Economia (@MinEconomia) June 17, 2021
Mauro Rochlin explica que os bolsões de pobreza não se encontram nos principais centros urbanos e a distribuição desses alimentos seria inviável, o que torna a medida inócua.
"Não existem redes que permitam, de maneira sistemática e permanente, que essa sobra de alimentos possa ser canalizada das famílias de classe média para aquelas famílias de menor poder aquisitivo. Eu acho que a medida seria absolutamente inviável."
O professor da FGV acrescenta que não há logística capaz de viabilizar esse projeto, uma vez que as redes de distribuição não seriam possíveis de serem implementadas.
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Proposta mais eficiente
Mauro Rochlin acredita que a medida se trata de "mera retórica do ministro", por isso crê que rapidamente a proposta será abandonada. O professor da FGV explica que o grande problema do Brasil não é a distribuição de alimentos.
"A questão não se refere exatamente à distribuição de alimentos, mas muito mais à distribuição de renda. Então, não trata de se considerar que o país é um grande produtor de alimentos e, portanto, todos deveriam estar bem alimentados. Se trata de se pensar essa questão dentro de outro enquadramento. O enquadramento correto seria se pensar a respeito de melhor distribuição de renda", explica.
Dessa forma, o Mauro Rochlin argumenta que há outras medidas muito mais eficazes do que a proposta do ministro da Economia.
"Acredito que programas sociais como Bolsa Família podem ser muito mais eficientes do que a distribuição de alimentos diretamente […]. Esses programas sociais, como Bolsa Família e outros do tipo, são muito mais eficientes do que se pensar na distribuição de alimentos que sobram na mesa da classe média", garante o economista da FGV.